Amanhã completo 47 anos. A continuar por aqui, dentro de uns escassos 19 anos vou poder reformar-me. Porém, tudo se conjuga para que venha a não ter reforma: não bastava o facto de Portugal ter a mais baixa taxa de fecundidade da União Europeia, fiquei agora a saber por um estudo da Universidade de Aveiro que a qualidade do sémen dos estudantes diminui durante as "Queimas".
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Peço ao leitor que não se ria. Esta foi, sem sombra de dúvida, a notícia mais preocupante que transitou do mês de Maio: os estudantes que se encharcam em álcool durante a (mais do que propícia) semana da Queima produzem sémen de pior qualidade e em menor quantidade.
Portugal tem um consumo de álcool per capita acima da União Europeia, e até D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga se veio mostrar preocupado com a queda da natalidade, sugerindo uma "inversão de marcha" a fim de evitar a morte do país. Eu estive a reler toda a poesia de Maria Teresa Horta para tentar perceber que posição seria aquela e, sinceramente, não me parece que a coisa se resolva por essa via; sequer com incentivos avulso como tentaram os autarcas - Póvoa de Lanhoso oferece 500 euros pelo primeiro filho, São Pedro do Sul dá 600, Gouveia chega a presentear com 1000 - isto porque a questão é multifactorial e europeia como prova o brinde de uma agência de viagens da pátria de Hamlet que oferece produtos para bebé e uma viagem para toda a família às clientes que vierem grávidas de férias.
Não, desta vez o problema não pode ser resolvido apenas pelos políticos, e Joaquim Azevedo, coordenador do grupo de trabalho sobre natalidade, parece corroborar isso mesmo numa entrevista ao JN quando afirma que o compromisso com a renovação geracional "vai implicar toda a sociedade, não [sendo] um problema exclusivo dos dirigentes políticos e governos que temos e teremos. Claro que todos, e estes em especial, teremos de dizer uns aos outros o que vamos fazer, quando, como, com que recursos e com que atitudes concretas". Ora, "quando" vamos fazer, manda o pudor não o anunciar; já "como" vamos fazer, pois, deverá ser com a atitude concreta habitual, cada qual usando o seu recurso.
Para agravar o cenário, o JN reportou também que a maternidade é cada vez mais um projecto adiado: em média, as portuguesas têm o primeiro filho aos 30 anos e ficam-se por aí. Já vi que não posso contar com elas para nada: cada vez mais são as mulheres quem decide e, no Brasil, descobriu-se recentemente um insecto da espécie Neotrogla curvata em que a fêmea é quem tem o pénis, e o macho a vagina. Podia ser pior: há fêmeas de aranhas que comem o macho depois de copularem. A parte boa da metáfora - que aqui é trazida, confesso, como homenagem à liderança feminina contemporânea - é o facto de a cópula durar até 70 horas, o que no humano nem seria relevante, a fazer fé num outro estudo que revelou que, com a idade, os homens preferem os beijos e os abraços à cópula, opção que, convenhamos, também não ajuda muito à minha reforma. Acresce que, só em 2013, saíram de Portugal 120 mil compatriotas, a maior parte dos quais em idade procriativa que vão agora trabalhar (e reproduzir-se) para a reforma de ingleses e alemães.
Aúltima réstia de esperança concentra-se toda na reprodução assistida, pese embora, também aí, os sinais não sejam muito animadores: os bancos públicos de gâmetas têm tido dificuldade em estimular (digamos assim) novos dadores, mesmo estando prevista na lei uma compensação monetária: 629 euros pela doação de óvulos e uns míseros 42 euros pela doação de esperma. Há tempos, um mecânico de Águeda foi condenado a 5 meses de prisão, entre outras indecorosas razões por se ter masturbado numa esplanada, frente a uma mulher. Na modesta opinião deste vosso cronista, andou bem o tribunal que o castigou: nem é tanto por ter esboroado 42 euros, em tempo de carestia; é mais por se arrogar ao direito de desperdiçar assim, tão displicentemente, duodécimos da minha reforma para o chão.
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