Crescer também é pagar melhor
Corpo do artigo
Portugal está a crescer acima da média europeia, mas os salários continuam a não acompanhar esse movimento. A economia dá sinais positivos, mas as famílias continuam a sentir dificuldades no rendimento líquido e os jovens enfrentam demasiadas vezes a escolha entre emigrar ou aceitar salários pouco competitivos. A verdade é que um país que cresce sem melhorar os salários não está a criar prosperidade, apenas estatísticas.
Claro que não se podem decretar aumentos salariais por lei, como se fossem independentes da realidade económica. Pois, para que os salários subam de forma sustentada, é preciso que as empresas tenham condições para gerar mais valor. Contudo, é inegável que existem empresas altamente rentáveis que poderiam pagar melhor e não o fazem, perpetuando modelos de baixa remuneração que prejudicam a economia no médio prazo. Pagar mal pode aumentar margens no imediato, mas destrói talento e capacidade de inovar no futuro.
A subida dos salários tem de estar ligada à produtividade, à inovação e ao crescimento real das empresas. Não nos podemos contentar com apenas fazer crescer o PIB, é preciso transformar esse crescimento em mais rendimento para quem trabalha e, para isso, há um conjunto de medidas que o país pode adotar para criar um círculo virtuoso.
Primeiro, deve reconhecer e premiar quem paga melhor. Empresas que aumentem salários acima da inflação ou da média do setor devem beneficiar de incentivos fiscais. Em vez de nivelarmos por baixo, devemos estimular quem puxa para cima.
Segundo, é essencial reduzir a carga fiscal sobre o trabalho, especialmente nos rendimentos médios e nos mais jovens. O rendimento líquido das famílias não pode depender apenas da boa vontade das empresas, tem de haver também um Estado que alivie o esforço de quem trabalha.
Terceiro, apoiar as empresas a investir em produtividade: digitalização, formação e inovação. Os apoios públicos só fazem sentido se ajudarem a criar valor e se forem acompanhados de compromissos claros de melhoria salarial. Empresas com projetos que beneficiam de fundos públicos (P2030, PRR e outros) e que promovem melhorias salariais deveriam ser beneficiadas, por exemplo, com melhores taxas de cofinanciamento.
Finalmente, é fundamental valorizar publicamente as empresas que fazem diferente. Um selo de "boas práticas salariais" daria reputação e atratividade a quem aposta em talento, tornando o mercado mais competitivo na retenção de pessoas.
Portugal precisa de romper com a ideia de que salários baixos são condição para competir. O verdadeiro caminho para a competitividade está em pagar melhor, reter talento e estimular inovação. Crescer é importante, mas crescer pagando melhor é o que fará Portugal avançar de verdade.