O Banco de Portugal divulgou há dias as suas projeções de crescimento para o país. Este foi de 0,9% em 2014, espera-se que suba para 1,7% em 2015, 1,9% em 2016 e 2,0% em 2017. Desde 1999 crescemos em média ao ano 0,6% (1,8% se retirarmos os anos recentes de crise). Estes números sinalizam uma recuperação, mas confirmam o fraco dinamismo que a economia tem registado desde o início do novo século. Mais preocupantes são as projeções a mais longo prazo da Comissão e do FMI que apontam para níveis de crescimento baixos. Na área do euro, Portugal tem uma das taxas de desemprego mais altas, um dos mais baixos níveis de rendimento per capita e um dos mais elevados pesos da dívida pública e privada. A solução destes problemas exige crescimento forte, e este não se vislumbra naqueles números.
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Herdamos do passado um setor produtivo subcapitalizado e com baixa produtividade que apostou numa competitividade assente em atividades trabalho-intensivas, de mão de obra barata e pouco qualificada. Sobreviveu à custa da desvalorização da moeda, uma terapia que deixou de ser possível com o euro. Desde então, a nossa competitividade deteriorou-se, alimentando o desequilíbrio externo crónico do país. Em consequência, o endividamento agravou-se. A necessidade de aumentar a poupança, para aliviar o peso do endividamento, não permite que seja a procura interna a puxar pela economia.
Há que apostar na procura externa, o que exige reforço da competitividade. Face aos desafios da globalização e da participação na área do euro, esse reforço deve assentar no forte aumento da produtividade e não em baixos salários. A teoria económica mais recente tem salientado a relevância decisiva da qualidade dos recursos humanos, da tecnologia e da organização e gestão no processo de crescimento. Isto, a par da existência de mercados mais flexíveis e abertos à concorrência, capazes de se ajustarem mais facilmente às mudanças que a dinâmica da economia global nos impõe. Será a conjugação destes fatores que gerará incentivos para o desenvolvimento da iniciativa empresarial, para o investimento inovador e modernizador e para a criação-desenvolvimento de novos negócios.
Estou de acordo com a Comissão e o FMI quando afirmam que progredimos pouco nestes domínios. Se não o fizermos não haverá melhoria da produtividade, sem a qual não será possível a melhoria de rendimento. Manter-nos-emos na cauda da Europa desenvolvida.