Já passou um mês desde que Marlon Correia foi assassinado a tiro um dia antes da abertura oficial da Queima das Fitas do Porto. Os contornos públicos do crime não terão passado despercebidos a praticamente ninguém, tal foi a projeção noticiosa do caso. O estudante encontrava-se no queimódromo, contíguo ao Parque da Cidade, a contar o apuro da venda de ingressos para o evento quando quatro assaltantes entraram no recinto. De luvas, encapuzados e aos tiros. Apostados em não deixar pistas, o único valor que conseguiram roubar foi a vida do estudante finalista da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, baleado pelas costas. O dinheiro, esse, manteve-se intacto nos cofres da Federação Académica do Porto (FAP).
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A voracidade mediática levou à exploração do caso nos dias seguintes, até ao emotivo funeral com direito a muitas capas negras espalhadas na imensa escadaria da igreja. Do que se passou entretanto pouco ou nada se sabe. Mas sabe-se que a polícia encarregue do caso continua sem identificar os autores do crime. E também se sabe que a Federação Académica do Porto, responsável pela festa manchada pela morte de Marlon, continua sem nada dizer à família do estudante. Vamos por partes:
A investigação policial sempre com final feliz é um exclusivo das exuberantes séries fabricadas em Hollywood. Na vida real as circunstâncias são consideravelmente mais complexas e expostas aos erros humanos. Neste caso, é de admitir que a pressão colocada em cima da PJ possa ter contribuído para uma precipitação tal dos investigadores que pode ter comprometido irremediavelmente a recolha das provas e, consequentemente, a identificação de suspeitos que o tribunal se encarregaria de julgar. Esta é uma suposição que só o tempo acabará por revelar. Até porque é de lamentar, mas não de admirar, se este crime ficar sem castigo. Nos últimos tempos, só na Zona Norte, o JN identificou outros três casos que as polícias se mostraram incapazes de resolver. Os mais céticos dirão que, tratando-se de crimes em que as escutas telefónicas não são relevantes, a eficácia policial parece esbater-se...
Há contudo no caso do estudante assassinado o papel da FAP, controverso desde a noite do crime. Os seus responsáveis apresentaram-se quase sempre errantes perante um acontecimento com que, manifestamente, não souberam lidar. Os exemplos são vários. Refira-se apenas um dos últimos: contactado pelo responsável máximo da FAP uma única vez, o pai de Marlon continua à espera de receber informação sobre a companhia seguradora do evento em que o estudante morreu. Por que demora a FAP? É complexo o fornecimento desse elemento? Poderiam as instituições responsáveis pelo licenciamento do queimódromo dar uma ajuda e revelar publicamente aquilo que a FAP demora a tornar público?
A memória de Marlon, que os representantes dos estudantes tanto disseram respeitar, certamente agradece.