Era para ser uma análise às mudanças que a guerra está a provocar na política europeia. Mas já não pode ser. Porque a cada dia que passa, a cada hora, a cada minuto, nos aproximamos de uma guerra total.
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Era para ser sobre a corrida às armas na Europa, sobre a ameaça de um militarismo irrefletido, mas já não pode ser, porque a cada dia que passa, a cada hora, a cada minuto, chegam notícias dos bombardeamentos russos às cidades ucranianas, com o seu rol de destruição e morte. Era para ser sobre sanções económicas que nem sabíamos que existiam e os seus efeitos, mas seria quase pornográfico fazê-lo quando centenas de milhares de mulheres e crianças estão em fuga para os países vizinhos. E quão desolador pode ser (para citar a jornalista Sara Gerivaz) o choro de uma criança arrancada ao regaço de um pai, na fronteira de um país em guerra. Era para ser sobre uma União económica, política, de cidadania, que evolui para uma União militar, mas já não será, porque a barbárie de Putin implica a violação dos direitos humanos de milhões de crianças ucranianas, como lembra Pedro Neto, da Amnistia Internacional. Incluindo o direito mais precioso de todos, o da vida. Como a menina morta por uma bomba russa em Mariupol; como outra menina, Polina, morta a tiro por soldados russos em Kiev, quando os pais tentavam fugir para um local mais seguro; ou outra ainda, Alisa, morta num bombardeamento a um jardim de infância. Era para ser um texto sobre coisas que pareciam importantes, mas que, a cada dia que passa, parecem não ter importância nenhuma, perante tantos crimes de guerra. Que fazer? Deixarmo-nos consumir pela raiva? Não. É mais útil exigir aos nossos governos e à nossa União Europeia maior determinação. Que elevem o nível das sanções. Que fechem a torneira do gás e do petróleo. Que asfixiem a economia de guerra russa. Mesmo que isso signifique que todos teremos de pagar uma parte do preço. Que importância tem, perante o catálogo de horrores que testemunhamos todos os dias e os pesadelos que estão por chegar?
Diretor-executivo