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O Porto e o Norte do país têm, nos próximos anos, um desafio demográfico sério pela frente. As últimas três décadas trouxeram uma alteração profunda na estrutura populacional da região, onde se destaca uma das taxas de natalidade mais baixas do país (7,5) no último ciclo censitário (2011-21) e uma perda gradual de população jovem, até aos 24 anos de idade, 8% superior à média nacional.
O problema central está, como se adivinha, no crescimento galopante da população sénior (+65 anos), faixa etária onde o Norte deixou de ser a região com menor predominância, como acontecia em 1991, para passar a estar acima da AM Lisboa, praticamente na média nacional (23,4%) e ser a NUTS II com maior crescimento relativo em todo o território nacional (+104%), incluindo as ilhas.
Este autêntico choque social conheceu especiais repercussões no concelho do Porto, onde o índice de envelhecimento já supera os 220% e há mais de 30 mil idosos a viverem isoladamente, com todos os riscos humanos e sociais que daí resultam.
A Associação Comercial do Porto, na passada semana, promoveu uma conferência dedicada a estes constrangimentos demográficos e refletiu, de forma específica, sobre a questão do envelhecimento ativo, matéria onde Portugal compara bastante mal com a generalidade dos países europeus - como o JN noticiou. O que os especialistas disseram é que há boas razões para intervir e mudar este paradigma, não apenas porque as pessoas vivem de facto mais tempo, mas porque as suas competências e experiências adquiridas fazem falta à sociedade, às famílias, e, já agora, às empresas da região e do país.
Do outro lado da equação, está a necessidade de construirmos um ambiente económico suficientemente atrativo e competitivo para reter o talento mais qualificado. O Norte está também a regredir a esse nível, sendo a região continental do país com maior perda de população jovem licenciada para a emigração.
Para vencer estes desafios não há poções mágicas, nem varinhas de condão. As soluções serão sempre complexas e de longo prazo, obrigando a que agentes políticos, económicos e sociais dialoguem entre si e definam o rumo a seguir. O primeiro passo, claro, é deixar de fingir que o problema não existe e estarmos apenas entretidos com as crises do dia a dia.