A extensão da crise financeira internacional traz o Mundo atarantado.
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Os especialistas na matéria andam à procura das causas, a Esquerda apressa-se a decretar a falência do neo-liberalismo (ou do capitalismo selvagem, expressão mais sonora), a Direita esconde-se - alguma com vergonha, outra à espera que a tormenta amaine - ou reclama contra a intervenção estatal. O cidadão, metralhado com notícias da desgraça, reza. Ou pragueja, se a fé não o aconchegar.
O que correu mal? Martin Wolf, comentador do Financial Times, dava esta semana uma ajuda. O longo período de rápido crescimento económico, com inflação e taxas de juro baixas e estabilidade macroeconómica, gerou complacência e fez crescer a apetência pelo risco. Some-se a fraca regulação dos mercados e temos o resultado final: o desastre.
Por cá, o "efeito dom inó" da crise ainda não é nítido para o consumidor. Não tarda a ser: por via do despiste financeiro, a taxa de juro atingiu o valor mais alto de sempre. E isso dói, como se sabe.
Por cá, a discussão vai dura por causa dos combustíveis. A história repete-se: em casa onde não há pão, todas ralham e ninguém tem razão. A Esquerda execra a maximização do lucro procurada pelas petrolíferas; a Direita, porque não é Governo, diz que a culpa é do Governo; o consumidor só tem uma certeza: a culpa não é, seguramente, dele. A culpa morrerá solteira?
Não morrerá, pelo menos enquanto tivermos este ministro da Economia. Manuel Pinho já jurou a pés juntos que, no caso das petrolíferas não tomarem juízo (isto é: se não baixarem, e depressa, os preços dos combustíveis), o Governo tomará medidas. O quer isto dizer? Quer dizer que o Governo acha que a culpa é das petrolíferas.
Não vale a pena desconstruir a demagogia que uma declaração destas encerra. Mas vale a pena lembrar o seguinte: quando, há uns tempos, se levantou um escarcéu com a possibilidade de as petrolíferas actuarem em cartel, o ministro mandou a Autoridade da Concorrência investigar. Conclusão: não há cartel. Afinal, parece que se tratou de uma investigaçãozita apenas. Porque o mesmo ministro quer agora que a mesma Autoridade faça uma investigação aprofundada.
Ou seja: a primeira investigação foi feita à pressa, quando a suspeita que se levantava era grave. Esta pressão sobre a Autoridade da Concorrência não é, de resto, caso ímpar. Sucede que ela é a única entidade capaz de, num mercado liberalizado como o dos combustíveis, actuar com eficácia, penalizando duramente quem tiver que ser penalizado. Essa é uma das formas legítimas de defender os interesses dos consumidores. A outra é baixar o imposto sobre os produtos petrolíferos. Mas essa o Governo não deve querer considerar.