<p>Quem pode dizer o que é o fim, o que é princípio, ou o que é o fim do princípio, ou o princípio do fim? Certamente que não os contemporâneos das mudanças. A única coisa que, prudentemente, podemos verificar é, por todo o Globo, a ocorrência de "perturbação". </p>
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Em Israel, foi alvo de atentado o professor Zeev Sternhell, sobrevivente dos campos de concentração, militante pela paz, grande estudioso dos fascismos europeus e dos "mitos" da fundação sionista. Quem o quis matar? A quem incomoda a sua voz, patriótica mas crítica? E que sinais dão os EUA, ao enviar, para uma base do deserto do Negev, o poderoso radar FBX-T, capaz de interceptar quase tudo? Ao Irão, dão a ideia de que não abandonam Israel. A Israel, dão a ideia de que deve acalmar-se.
Convulsão, ainda, na costa da Somália, com o crescimento da pirataria, e a ameaça sobre o comércio internacional. Quem são os flibusteiros? Uma mistura de gente miserável e desesperada, de oportunistas e de doutrinadores, aproveitando a abundância de armas e a ausência de estado. Por vezes, fazem - involuntariamente - justiça poética, e apresam navios que podem violar sanções internacionais. Mas são um cancro, e a Europa já se mobilizou.
Tremores, ainda, num recente e ambicioso inquérito da BBC, com dezenas de milhares de entrevistados, em 23 países dos vários continentes.
Pergunta: quem está a ganhar a "guerra ao terrorismo"? 49% acham que é um "empate", 22% afirmam que são os EUA, 10% a "al-Qaeda".
E as medidas americanas têm fortalecido ou enfraquecido o terrorismo? 30% acham que têm fortalecido, 22% que têm enfraquecido, 29% não sabem o que pensar.
Mais preocupante, no campo das percepções, o facto de a al-Qaeda despertar juízos positivos, ou "mistos", para 60% de egípcios e 25% de nigerianos, e só ser considerada "negativa" por 19% de paquistaneses.
Anormalidade, ainda, no Cáucaso. Os observadores da União Europeia chegarão a uma conclusão sobre "quem começou"? Uma coisa terão percebido, a partir das opiniões russas: a intervenção de Moscovo não tem nada a ver com o Kosovo, apesar de algumas análises infantis, mas com o argumento de que Saakashivilli é um "irresponsável" e um "genocida".
Sempre sobre solavancos, ouvimos o presidente Medvedev afirmar, perante a placidez da senhora Merkl, que "acabou o domínio americano no Mundo".
Os empresários alemães presentes, cépticos quanto aos planos de perdão das más dívidas, sorriem educadamente, pensando em duas coisas: ter boas relações económicas com Moscovo, e não deixar a retórica belicista triunfar, é uma chave de sucesso; por outro lado, Berlim não parece contente com a maneira como Bush quis solucionar a "crise".
No Paquistão, o novo chefe dos serviços secretos centrais (ISI), o operacional "tecnocrata" Ahmed Pasha, reflecte sobre tudo isto. Como ser aliado dos EUA, e proteger as fronteiras, contra os próprios EUA? E como reagir ao próximo presidente americano?
No primeiro debate de campanha, os dois candidatos prometeram que atacariam a al-Qaeda, se fosse preciso dentro do Paquistão. A diferença é que McCain não o diria, e Obama sim.
Percalços, por fim, na Europa e no G8, mobilizados a toque de caixa por Sarkozy. Como se sai da "falta de dinheiro", que chega a perturbar os mercados ricos dos xeques do Médio Oriente?
Poderá a China, semicapitalista, ajudar?
E as más raízes saneiam-se pelo arranque, ou pela enfermagem cuidada, com protecção estatal?
E é "crise", ou morte anunciada?
E de quê?