A entrevista que Cristina Ferreira dá, esta semana, à revista "Visão" é para se levar a sério, quando fala em ser presidente da República: "um dia, poderia representar todos os portugueses". Não é a primeira vez que refere esta sua vontade. E isso não será por acaso.
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Ao longo de várias páginas, Cristina Ferreira revela-se muito expressiva nas entrelinhas de cada resposta. Lembra que a sua contratação pelo grupo Impresa está paga devido aos lucros que proporcionou à SIC graças à rápida subida de audiências que o seu programa gerou por um óbvio efeito de contaminação a toda a grelha; diz-se pronta para conduzir qualquer formato em diferentes franjas horárias; minimiza as críticas negativas, mas censura as revistas cor-de-rosa pelas inverdades que publicam a seu respeito, embora saiba que está envolvida num imparável negócio onde os famosos são vendidos em permanência a um público ávido em conhecer o que está para lá da vida pública das pessoas com notoriedade mediática...
Na conversa, a apresentadora tem o cuidado de introduzir variações de tom, encostadas ao campo político que lhe interessa: o que está longe dos partidos, mas próximo das pessoas. Fala do telefonema de Marcelo Rebelo de Sousa na estreia do "Programa da Cristina", encontrando semelhanças entre ambos no afeto que dedicam aos portugueses. Lembra os políticos que já passaram pelo seu programa (António Costa, Catarina Martins, Luís Marques Mendes, Assunção Cristas...) para assegurar que as suas manhãs televisivas são "uma plataforma essencial de comunicação". Aí, a apresentadora retira dos seus entrevistados afirmações que dificilmente poderiam ser obtidas nos tradicionais espaços informativos. E reclama para o período matinal uma centralidade que o seu programa ajudou a consolidar. Porque Cristina Ferreira não quer ser apenas uma apresentadora. Pretende ser vista como uma das pessoas mais bem-sucedidas em televisão e ambiciona capitalizar esse triunfo noutras funções. Por exemplo, na Presidência da República. "Não me imaginava, nunca me passou pela cabeça até ao momento em que as pessoas me começaram a dizer que isso poderia acontecer", diz.
Numa altura em que os partidos estão numa profunda deriva e os cidadãos parecem descrentes dos políticos, há espaço para figuras que vão granjeando popularidade noutros campos. Como o da TV que continua a ter hoje um colossal poder. E aí Cristina Ferreira soma pontos. "Não iria falhar", garante. E isso não é dito a brincar.
*PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA UMINHO