Cristina Ferreira revolucionará a TV generalista?
Quando foi para a SIC, Cristina Ferreira prometeu mudanças na TV que temos. O formato que criou, a partir de 7 de janeiro de 2019, alterou profundamente as manhãs televisivas, obrigando a RTP1 e a TVI a ajustamentos.
Corpo do artigo
No entanto, nunca se notou uma influência sua na grelha do canal e, por arrastamento, na concorrência. Agora isso irá acontecer? Os montantes envolvidos na sua transferência criam uma colossal expectativa.
A televisão portuguesa, tal como a conhecemos, apresenta três momentos de referência: o surgimento do primeiro canal privado, inaugurado a 6 de outubro de 1992; a transformação do CNL na SIC Notícias, a 8 de janeiro de 2001; e a aposta da TVI no "Big Brother", a partir de 2 de setembro de 2001. Na SIC, Cristina Ferreira não conseguiu criar um marco estrutural. É verdade que deu uma grande centralidade ao programa da manhã e, com isso, ajustou aqui e ali o alinhamento do "Primeiro Jornal", mas foi incapaz de alargar a sua influência à SIC generalista.
A notícia da sua passagem para a TVI surgiu como uma bomba. Para a opinião pública, trata-se de uma transferência apenas comparável às do mercado futebolístico numa altura em que os grupos de média vêm exigindo do Governo apoios públicos para enfrentar uma crise que, segundo garantem, é intransponível por meios próprios. Para o audiovisual, abre-se um momento de agitação ao nível das contratações, o que confere vitalidade a um meio que, nos últimos anos, esteve estagnado. Para os dois principais canais privados, intensifica-se uma concorrência que promete novidades numa "rentrée" que, como se percebe pelas redes sociais de Cristina Ferreira, pode acontecer "amanhã".
É, pois, grande a expectativa. Porque todos sentimos necessidade de uma revolução nas grelhas. Em horário noturno, os portugueses veem, desde 2001, novelas portuguesas cujos enredos são demasiado fastidiosos e novelas da vida real que se enchem de gente que exibe em público comportamentos muitas vezes indecorosos. Um jovem com menos de 20 anos apenas conhece esse tipo de programação, havendo como única alternativa a oferta televisiva do operador de serviço público. É pouco para o país que somos. Precisamos de arriscar mais, de inovar mais, de ousar mais... O passado demonstra que quem foi capaz de criar ruturas na engenharia de programação triunfou sempre. Haja esse rasgo.
Professora Associada com Agregação da Universidade do Minho