<strong>1. </strong>O aviso de Rui Moreira. Em março deste ano, em entrevista ao JN, o autarca do Porto lançou o alerta: "Temo que a descentralização seja o enterro definitivo da regionalização". Na altura, depois de uma vitória socialista com maioria absoluta, incluindo no pacote a promessa de um referendo em 2024, parecia catastrofista. Ou uma boa frase para fazer um título (que aliás fez). Três meses depois, no entanto, o oráculo de Moreira arrisca ser mais certeiro que os da famosa sacerdotisa de Delfos.
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2. O erro de António Costa. Não há dúvida que o processo de descentralização - em que o Governo do PS tentou passar para as autarquias, por uns tostões, tarefas que custarão milhões - foi desastrado. Uma trapalhada de vários anos que teria sempre custos políticos (mesmo que agora se vislumbre a hipótese de um acordo). Era esse, aliás, o teor do alerta de Moreira: quando chegasse a hora de dar o passo da regionalização, o cidadão estaria desconfiado. O que nem Moreira previu (em março ainda acreditava que haveria referendo) é que tudo desmoronasse tão rápido.
3. O cálculo de Luís Montenegro. Ainda ninguém conseguiu perceber se o novo líder do PSD é contra ou a favor da regionalização. Nem se vai perceber, porque ele não quer falar disso. Montenegro quer adiar para as calendas gregas (para os mais distraídos, não há calendas gregas). E tem as suas razões. Um referendo em 2024 não lhe convém, porque há europeias; 2025 também não, que há autárquicas; 2026 nem pensar, que é ano de presidenciais e legislativas. Foi o próprio que o disse, à saída da reunião com o presidente da República.
4. O alívio de Marcelo Rebelo de Sousa. Foi com pouco contida satisfação que o presidente da República recebeu as notícias que lhe chegaram do congresso do PSD. Ai o líder do PSD não quer referendo? Então não há consenso, não se faz, não se fala mais disso. Marcelo já tinha sido um dos mais ativos combatentes pelo "não" no referendo de 1998, aceitou a custo que se voltasse a discutir o assunto, para voltar a dar o caso como encerrado, com toda a rapidez.
5. A crónica de uma morte anunciada. É afinal o que aqui se conta. Sem vislumbre do rasgo literário que Gabriel Garcia Márquez demonstrou na sua narrativa sobre a morte de Santiago Nassar. É o que nos sobra. É tudo mau. A regionalização morreu? Viva o centralismo.