A sério... défice, juros, "yelds", "brexit", "daesh", "deutsch", "bank"? Não querem mais nada? O que eu vejo de cada vez que olho para o meu telemóvel não são as notificações do Mundo a explodir, a agitar-se, aquilo para que eu olho são números: 30, 31, 28, 26, 28. É esta sucessão de previsão de temperaturas máximas que me interessa, não os 3,040% ou os 3,083% de flutuação das taxas de juro a 10 anos, o que quer que isso seja.
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Todo o homem tem direito à sua "silly season" e desde que foi emitida a autorização anual para usar calção e chinela de dedo que desesperamos pela época das notícias patetas, que nos ajudem a ultrapassar o estaladão que é ter que lidar com uma Europa em desagregação, um Médio Oriente em implosão e uns Estados Unidos à beira da confusão. Ponham os olhos no exemplo de Wolfgang Schäuble. Os jornalistas perguntam-lhe pelo estado do Deutsche Bank e ele responde: "Portugal".
"Entre os bancos globais de importância sistémica [G-SIB], o Deutsche Bank aparenta ser o maior contribuinte líquido para riscos sistémicos, logo seguido do HSBC e do Credit Suisse", escreveu o FMI num relatório revelado ontem. E o que é que tem a dizer sobre isto o ministro das finanças alemão? "Portugal". Sim, o que o preocupa é este cantinho à beira-mar que, segundo ele disse e desdisse, vai precisar de um novo resgate.
Se um dos responsáveis máximos de uma das potências europeias acha que pode esconder os seus problemas usando como escudo um pequeno país, sem se preocupar com as consequências, porque é que não poderemos responder "praia" ou "Cristiano Ronaldo", de cada vez que nos quiserem vir falar de problemas? A Europa ainda não sabe bem como lidar com o Brexit, já mostrou que não consegue resolver a crise dos refugiados e não consegue enfrentar os problemas estruturais da moeda única, mas terá sempre o Algarve para contornar esses problemas.
É técnica evasiva de excelência. Falam-nos dos problemas da dívida e nós respondemos com "um fino", dos problemas do défice e nós "dois finos", da fragilidade do sistema financeiro e nós "três finos e uns tremoços", até a mesa estar cheia o suficiente para olvidarmos o elefante na sala ou, pelo menos, para o pintar de cor-de-rosa.
Tudo isto poderia ser cómico ou levemente ridículo se Wolfgang Schäuble não estivesse a brincar com o nosso destino coletivo. E o problema é que ele não está a brincar. Ele quer--nos mal, porque essa é a maneira de provar que tem razão.