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Aqui estou no mercado da Ribeira, sentado numa esplanada, no meio de agosto, com uma bebida sem álcool em mãos, apreciando a completa inutilidade deste momento. E não me entenda mal; essa inutilidade é preciosa, uma joia rara num mundo que nos pede tanto e o tempo todo. É aquela pausa no meio do caminho, onde tudo o que se exige é nada - absolutamente nada.
À minha volta, o mundo parece ter entrado em um acordo tácito de que o tempo, nesta hora, é um conceito relativo. As pessoas falam baixinho, como se estivessem a respeitar a solenidade deste ócio. Há quem leia o jornal, mas com um olhar distante, como se as manchetes não tivessem pressa.
Na verdade, penso que deveria haver mais momentos como este. Instantes em que o único propósito é o de existir, sem pressa, sem planos. Mas e se, por um breve momento, pudermos dar-nos ao luxo de ser como essa bebida - simples, refrescante e sem consequências? E se, por uma tarde, pudermos aceitar que talvez o mais importante seja justamente não fazer nada importante?
Assim, aqui fico, numa esplanada qualquer, no meio de agosto, no meio da tarde, no meio da vida. Bebendo uma bebida sem álcool, num ritual de celebração da inutilidade. E, sinceramente, não poderia pedir mais nada. Porque, às vezes, tudo o que precisamos é exatamente isso: uma tarde de calor, uma sombra confortável e o direito inalienável de não fazer nada além de estar.
E quando o sol finalmente se começar a pôr, e a brisa ganhar um pouco mais de força, talvez me levante, pague a conta e siga o meu caminho. Mas até lá, deixo-me ficar aqui, contemplando a beleza daquilo que não precisa de justificativa. Afinal, a vida é curta, mas os momentos inúteis são eternos.