A realidade nem sempre está inteiramente refletida nos números, mesmo, ou sobretudo, quando estamos a falar da economia. É o caso dos números que parecem atestar o bom comportamento da nossa balança comercial. Que não são o que parecem, ou, no mínimo, parecem mais do aquilo que são na realidade.
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Vejamos: no primeiro semestre deste ano, as exportações cresceram nada menos de 9,1 por cento. E, mesmo que do primeiro para o segundo trimestre esse crescimento tenha desacelerado de 11,5 para 6,5 por cento, o número do semestre é indesmentivelmente bom. Mas será suficientemente bom para o ministro da Economia ter umas férias descansadas?
Tão importante como os números é o que significam, no caso a natureza deste crescimento. E qual é ela?
Vejamos: esses 9,1 por cento de crescimento foram obtidos em grande parte pelo aumento em 42,5 por cento das exportações em produtos refinados de combustíveis minerais e de 78,9 por cento em venda de ouro e outros metais preciosos.
Portanto: para além da desaceleração do primeiro para o segundo trimestre, estamos em presença de um crescimento muito influenciado por exportações que incorporam um fraco valor acrescentado da nossa indústria. E no caso dos refinados gerou até um aumento das compras ao exterior de combustíveis minerais, influenciando negativamente a nossa dependência energética, a qual já vai em 21 por cento de importações.
Não estando este crescimento das exportações especialmente baseado em valor acrescentado da indústria nacional, mais cuidado ainda precisamos de colocar quando apreciamos a outra face da nossa balança comercial: as importações.
Vejamos: a diminuição em cinco por cento das importações tem toda a aparência de sucesso. E assim seria se tivéssemos notícias de que elas, as importações, estariam a ser substituídas por produção nacional. Ora, sabemos que não é assim. E sabemos mais: que boa parte da diminuição das importações se deve à retração do consumo das famílias e à queda do investimento das empresas.
Por tudo isto, de cada vez que nos puserem à frente dos olhos números sobre o desempenho da nossa economia, manda a prudência que os confrontemos com a realidade social. Simplesmente porque quando a economia funciona as pessoas vivem melhor.
E, sobre as pessoas, os números não param de piorar: os desempregados reais ultrapassaram o milhão e em risco de pobreza [incluindo, portanto, parte da classe média envergonhada que pede às escondidas] haverá mais de dois milhões de portugueses.
Tenhamos, pois, todo o cuidado com a balança falsa.