<p>Os partidos da Oposição ligaram as suas cassetes anti-Sócrates e vá de dispararem por o programa do Governo ser um decalque do programa eleitoral do PS. Absolutismo, dizem eles. A única voz contrária a esta torrente foi a de Marcelo Rebelo de Sousa, que lembrou que já Cavaco Silva, quando liderou um governo minoritário, fez o mesmo.</p>
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Vejamos: o que o Governo fez foi mostrar-se disponível para levar por diante o programa que anunciara aos eleitores, e a que estes deram a maioria dos votos. O Governo sabe que dificilmente poderá cumpri-lo porque, perdendo a maioria absoluta, vai ter de negociar algumas coisas com os outros partidos. Umas serão aprovadas, outras aprovadas depois de modificadas e outras não passarão. O que a Oposição parece defender é que o Governo deveria ter apresentado um programa que fosse a síntese dos programas que todos apresentaram nas eleições, o que é, além de impossível, ridículo. Aliás, os partidos da Oposição, não tendo ganho as eleições, podem, cada um deles, apresentar as suas propostas no Parlamento e negociar com os outros partidos a sua aprovação. Era o que faltava que, por terem perdido, os partidos ficassem privados dessa capacidade, embora, mutatis mutandis, seja isso que resulta da aplicação linear da crítica absolutista que a Oposição faz ao Governo.
O que tudo isto vem confirmar é que vamos viver períodos conturbados. É certo que, de repente, o Governo duplicou o uso da palavra diálogo a ponto de isso soar algo estranho, mas seria bom que a Oposição não confundisse o direito que ganhou de obrigar o Governo a dialogar com a humilhação a que o pretende sujeitar de cada vez que esse diálogo for necessário. Já todos percebemos que não haverá, por razões óbvias, moções de censura ao programa. Mas se isso é assim não vale a pena prometer que, quando for do Orçamento, será diferente. Não vale a pena ameaçar que, da próxima vez… É que também já todos sabemos que, sem maioria absoluta e sem acordos prévios, cada dia será um dia, sempre possível de ser o último.
E há uma coisa que Governo e Oposição deverão ter presente: o eleitor, que é, afinal, o grande juiz, assiste a tudo. E julgará em conformidade quando chegar a altura de voltar a votar. É precisamente por isso que nos tempos do PREC fez escola a máxima de que "o voto é a arma do povo". Cuidado, o eleitor está a ver-vos. P.S. - O número de casos de gripe, como se previa, está a aumentar com a chegada do frio. E haverá mais, assim que houver mais frio. Mas é apenas gripe. Uma coisa são as precauções que estão amplamente divulgadas, outras são o boato e o alarmismo. Como outro dia me dizia um médico, "tenha sempre à mão o "Ben-U-ron".