Escrevo estas linhas ainda a partir de Glasgow, na COP26, na reta final das negociações da Conferência para as Alterações Climáticas.
As expectativas acerca do sucesso desta conferência foram sendo reportadas como baixas, e olhando para as ausências de líderes internacionais de peso é um alerta para a necessidade de conciliação dos interesses de cada país. Parece-me, contudo, importante sublinhar alguns aspetos positivos, que nos permitem concluir que possivelmente a COP26 será, à sua maneira, um sucesso moderado. Qualquer passo dado nestas negociações, tendo em conta a grande complexidade geopolítica que vivemos atualmente é um passo importante.
A China é o país do Mundo que mais emissões de CO2 produz (29%), seguida pelos Estados Unidos da América (14%). Nos últimos anos, o diálogo entre os dois países tem sido praticamente inexistente. No entanto, foi possível, durante esta semana, um acordo ambicioso entre os dois maiores poluidores do Mundo. Washington e Pequim comprometeram-se a cooperar e colaborar para reduzir as emissões de metano, bem como o uso de carvão como fonte de energia e o combate à desflorestação. Relativamente às emissões de carbono, ao contrário dos EUA, que se comprometeram com a neutralidade carbónica em 2050, a China mantém a meta apenas para 2060. Apesar de tudo, o acordo alcançado é importante e para ele contribuiu largamente a intermediação europeia, que manteve sempre a porta aberta ao diálogo com os dois gigantes mundiais. Resta agora garantir que ambas as partes cumprem o acordo firmado para que este momento não passe apenas por uma certa operação de charme geopolítico.
Penso que é importante também salientar o papel que o Brasil adotou nesta conferência. Durante os últimos três anos do Governo de Jair Bolsonaro, em matéria de ambiente, o Brasil teve sempre uma política pouco ambiciosa relativamente às alterações climáticas. Sucede que durante esta conferência assinou dois acordos importantes: o acordo internacional para a proteção das florestas e o acordo para a redução das emissões mundiais de metano. Ao longo de toda a reunião, o Brasil tem demonstrado uma postura construtiva igualmente patente na mudança de atitude relativamente à regulamentação dos mercados de carbono.
Por último, uma breve nota sobre a forma como devemos encarar este período de transição ambiental. Cuidar do ambiente deve ser fácil, pragmático e não pode representar perda de qualidade de vida ou coartar aspirações de realização pessoal. Desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza são, pois, compatíveis com o crescimento económico. Para esta COP26 decidi vir de comboio a partir de Bruxelas. A minha decisão não foi mera cosmética política para assinalar o momento. Foi, sim, mais fácil vir de comboio. E ambientalmente mais responsável também.
*Eurodeputada do PSD
