Estima-se que, na União Europeia, haja mais de 6,3 milhões de trabalhadores no setor do cuidado formal e 44 milhões de cuidadores informais, que se ocupam de pessoas com dependência que são muitas vezes familiares.
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Apesar da dimensão deste setor, ele é frequentemente esquecido e subvalorizado. Em muitos estados-membros, os cuidadores informais - que providenciam cerca de 80% de todos os serviços de cuidado - não têm acesso a direitos básicos, como férias e apoio financeiro.
Talvez este esquecimento esteja relacionado com o facto de serem as mulheres as principais responsáveis pelas tarefas de cuidado. Talvez achem que sempre foi assim e que nunca vai deixar de ser. Isso faz com que, na União Europeia, cerca de 7,7 milhões de mulheres estejam fora do mercado de trabalho por causa dos seus deveres de cuidado, comparando com apenas 450 mil homens.
A Comissão Europeia vai propor uma Estratégia Europeia para a Prestação de Cuidados e, no Parlamento Europeu, estamos a trabalhar num relatório sobre este tema, do qual sou relatora pelo Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas.
Esperamos que o resultado final desta Estratégia seja ambicioso. Primeiro, precisamos de combater as desigualdades de género neste setor, nomeadamente, através de campanhas nas escolas que ajudem rapazes e raparigas a perceber que cuidar não é coisa apenas de mulher.
Segundo, precisamos de assegurar que os cuidadores informais têm acesso a direitos básicos. Em Portugal, por exemplo, existe o Estatuto do Cuidador Informal que, entre outros aspetos, lhe garante um subsídio de apoio, períodos de descanso e acesso à formação. Este Estatuto, que foi, recentemente, alargado a todo o país e cuja concretização faz parte do Programa do novo Governo, é um bom exemplo que deve ser seguido por outros estados-membros.
Terceiro, temos de promover o uso de tecnologias digitais na prestação de cuidado. Cerca de 78% dos cuidadores informais nunca utilizaram tecnologias digitais. Estas tecnologias podem facilitar o seu trabalho, permitindo, por exemplo, a marcação e a realização de consultas online, o que diminuiria os custos e esforços associados ao transporte de pessoas, muitas das quais são idosas e têm dificuldade em movimentar-se.
Acima de tudo, temos que valorizar quem cuida. Ao longo da nossa vida, quase todos nós vamos cuidar ou ser cuidados por alguém. Está na altura de reconhecermos que a tarefa do cuidado é crucial para o bem-estar das sociedades europeias contemporâneas.
*Eurodeputada do PS