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1. Em português, diríamos que é uma telenovela. Em espanhol, dirão que é um "culebrón". O que confere, na língua de Cervantes, um carácter melodramático adicional. Num caso, como no outro, um daqueles enredos de que se pode desistir, para retomar duas semanas depois, sem perder o fio à meada. Sendo que o "culebrón" que, este verão, rivaliza com os da TVI é o das sanções a Portugal e Espanha, por violação do limite de défice público. A acontecer tal castigo, será a primeira vez. Ainda que o Pacto de Estabilidade já tenha sido atirado várias vezes para o caixote do lixo: a França já o violou por 12 vezes, a Alemanha sete, a Itália nove e o Reino Unido 11, para só falar das maiores economias europeias. Como diz um dos 20 economistas/especialistas de vários países que o jornal "El País" foi ouvir a este propósito, Portugal e Espanha foram os "dois pobres diabos" mais à mão para dar o exemplo, uma vez que a Comissão Europeia "nunca se atreveria" a castigar o eixo franco-alemão. Aliás, e num crescendo de dramatismo, que inclui a opinião de economistas alemães, há quem classifique as sanções como "lamentáveis" ou uma "estupidez", quem compare as sanções a "uma bomba atómica", ou seja, uma "arma de dissuasão que não é para ser usada", e, finalmente, quem anteveja o "naufrágio" ou a "desintegração" da União Europeia. Deprimente. Pelo menos tanto quanto ser obrigado a assistir a uma temporada completa de "A única mulher" ou de "Massa fresca".
2. Ficámos ontem a saber que passar nas autoestradas do interior e do Algarve (antigas scut) vai ficar mais barato. O ministro justifica a medida com uma promessa eleitoral e como uma tentativa de apoiar o desenvolvimento do interior. Aceitável, ainda que discutível, quando a redução é de 15%. Mas essa é apenas uma das faces da moeda. A outra é que representa um custo adicional para o Estado e, portanto, para os contribuintes. Segundo Pedro Marques, andará à volta dos 14 milhões de euros. Mas ficamos sem saber como chegou a essas contas e, portanto, se há ou não o risco de o buraco se agravar. Não é uma questão menor. No que diz respeito a parcerias público-privadas (PPP) rodoviárias, sempre que são anunciados novos contratos, ou a sua renegociação, o preço a pagar é sempre maior do que o anunciado. Veja-se o caso que o JN revelou no final da semana passada. O Governo PSD/CDS anunciou, em 2015, uma poupança bruta de 588 milhões de euros com a renegociação das rendas da scut da Beira Interior (A23). Mas esqueceu-se de dizer que passou para os privados as receitas brutas das portagens, no valor de 711 milhões. Feitas as contas, não só não há poupança, como pode dar um prejuízo avultado. Outro "culebrón". E igualmente deprimente.
* EDITOR EXECUTIVO