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O nome escolhido pelo primeiro-ministro suscita, como alguém dizia, mais do que o benefício da dúvida - cria expectativas. Positivas!
Parece-me, de facto, que é preciso recuar bastante no tempo para encontrar um protagonista da pasta com o estatuto do embaixador Luís Filipe Castro Mendes - estatuto intelectual e experiência curricular.
O único problema pode ser mesmo esse. Como se adaptará um poeta e um diplomata, por definição encarnações elevadas do espírito e da ação humanos, a um Ministério que pede, antes de mais, um programa de emergência para garantir o funcionamento mínimo das instituições e a estabilidade mínima dos funcionários? Um Ministério, quase vocacional, tal o grau máximo de discernimento que é preciso ter e manter para definir objetivos, gerar consensos e, sobretudo, encontrar os meios necessários a cada tarefa, a cada investimento.
Porque, não reste dúvidas, é disso que se trata:
1. O novo ministro precisa de estabilizar o quadro de financiamento das despesas correntes de todas as instituições que tutela; lembro-me, em experiências profissionais anteriores, de diretores de museus que tinham de inventar soluções para comprar lâmpadas, papel ou pagar telecomunicações;
2. O novo ministro precisa de desconcentrar o quadro de apoios, designadamente privados, quase sempre afetos às grandes instituições da capital que por sua vez são as que mais público e orçamento do Estado já captam e consomem;
3. O novo ministro precisa de conseguir interagir com insistência e persistência com os outros setores da governação para descortinar centros de interesses comuns numa visão da cultura endógena e multidisciplinar;
4. O novo ministro precisa de conhecer o peso e definir a ponderação da variável "território" na tomada de decisões de investimento; só a falta de população é mais grave do que a falta de atenção aos ativos culturais de cada parcela do país;
5. O novo ministro precisa de melhorar a performance dos seus tutelados. São precisos procedimentos mais ágeis e decisões mais compreensíveis e mais ajustadas ao desenvolvimento integrado das comunidades.
6. O novo ministro precisa, enfim, de convencer os seus colegas responsáveis pela promoção do país de que antes de vendermos os nossos artistas ou desportistas famosos a outros países, é absolutamente urgente fazer crescer nos portugueses a vontade de beber a tragos a nossa história. Porque o importante - como dizia Pessoa - não é ler, nem saber. É conhecer!
ANALISTA FINANCEIRA