Há curiosidades urbanísticas portuenses interessantes, a que, por vezes, se dá pouca importância, no ferver quotidiano. Vou referir um facto, agora que andam por aí a mexer em ruas sem lhes saber o passado.
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Refiro duas, espaçadas cerca de 150 anos na sua abertura e com perfil transversal (largura) bem diferentes: Rua das Flores, manuelina, uma oferta de D. Manuel I à cidade (Sta. Catarina das Flores, nome original), rua aristocrática e matéria a que os portuenses nunca foram muito dados e que mais tarde, no séc. XIX, foi rua do Romantismo Portuense; e Rua do Almada, final do séc. XVIII, com largura bem inferior a esta e tipologia arquitectónica totalmente diferente.
Como refiro, Sta. Catarina das Flores foi “oferta do rei à cidade”, que se tinha empenhado no casamento de D. João I e no baptizado do Infante e fornecido as carnes para as caravelas de Ceuta, construídas nos estaleiros do Douro, tudo encargo da cidade que vira partir para o Tejo o “negócio” dos Descobrimentos e ficara a “curtir as dívidas”. O rei, percebendo isto e sabendo que os portuenses não eram “fáceis de assoar”, fez esta “prenda” à cidade.
A Rua do Almada, século e meio depois, foi aberta da Porta de Sto. Elói da “Muralha Fernandina” (hoje Largo dos Loios) até ao “Campo de Armas”, hoje Praça da República e onde existe o Quartel-General. Independentemente da sua tipologia arquitetónica (tipo de lote e de construções), a largura foi ditada pela necessidade de transporte rápido do canhão no carro de cavalos, pois as características militares alteraram-se e o canhão estático dentro da muralha perdeu sentido como defesa. Esta rua teve outras características arquitectónicas e construtivas de interesse e voltaremos a referi-lo para se perceber os séc. XVIII e XIX portuenses.