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Falei, na crónica anterior, da Rua do Almada e gostaria de referir mais algumas características urbanas importantes e que justificam o seu perfil e tipologia construtiva.
Aberta em terrenos agrícolas e em período de particular desenvolvimento urbano fora da “cerca muralhada”, corresponde a divisão de lote estreito e profundo e normalizado, elevado custo fundiário e idêntica tipologia de construção (lote estreito e construção em profundidade) por razão das vigas estruturais usadas, madeira de castanho, árvore resistente e duradoura mas que atingia 8/9 metros úteis e não empenava nem “bichava”, como pinheiro ou eucalipto, que deu o lote típico do Porto, profundo, com caixa de escadas e claraboia ao centro e varandas sobre a rua e sobre o jardim/quintal posterior. Cércea (altura), 3/4 pisos com “pés direitos” da época, 3/3,5 m.
Foi aqui, pela pressão construtiva e tipologia normalizada, que surgiu aquilo que se pode considerar a primeira experiência de normalização construtiva, início de “pré-fabricação” no granito das padieiras e ombreiras de vãos que eram produzidas nas pedreiras a norte e encomendadas em “X unidades” iguais e chegavam a obra prontas para aplicação. Só mais tarde surgiu a pré-fabricação metálica na cidade, séculos XIX / XX, mas o modelo construtivo desta rua é exemplar da racionalidade técnica e estética e do sentido económico aplicados.
Ainda hoje, na transformação funcional e comercial da rua isso se sente, das lojas de ferragens e mobiliário evoluiu para restauração e derivados, mas a imagem arquitectónica, ritmo de abertos e fechados de vãos e varandas se mantém e o lote tradicional, com pequenas recomposições, se conserva. Pode dizer-se que é reabilitação urbana exigia pela Câmara, mas deriva do pensamento de raiz para a rua e da matriz urbana firmada na origem e adaptada à evolução dos anos e dos desempenhos funcionais dos tempos. Voltaremos com outros casos de interesse.