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Vou falar-lhes de duas ruas portuenses, importantes e com História, Rua das Flores (Sta. Catarina das Flores, na origem) e Rua do Almada. Esta, do séc. XIII, liga a antiga porta de Santo Elói da muralha Fernandina ao Campo de Armas, hoje Praça da República e tem um perfil transversal (largura) bastante inferior à outra, aberta cerca de 150 anos antes, numa oferta de D. Manuel I à cidade. Que tinha feito casamento de D. João I e baptizado o Infante D. Henrique e “aparelhado” a expedição de Ceuta e ficara endividada e o Rei, percebendo que os portuenses estavam insatisfeitos, “ofereceu” ao burgo esta rua aristocrática e que mais tarde, no séc. XIX, se iria transformar na Rua do Romantismo Portuense. Razão disto, também, depois da conquista de Ceuta, os Descobrimentos passarem para o Tejo, pois a barra do Douro não tinha condições, que originou, bastante mais tarde, a passagem do porto para Leixões, outra interessante história portuense.
E qual a razão para a Rua do Almada, século e meio depois, ser bastante mais estreita que a das Flores? Ora, pela finalidade da mesma, com as mudanças estratégicas militares, o canhão não poderia ficar mais fixo no interior da muralha e era preciso deslocá-lo rápido no carro de cavalos até ao acampamento militar no Campo de Armas. Daí a rua ter largura para este transporte e ser direta ao objetivo, embora outas razões a façam assim, pois foi primeiro caso de “pré-fabricação construtiva” na dimensão dos lotes (6 a 8 metros de largura) ditada pelo comprimento das vigas de castanho e pela normalização de padieiras e ombreiras de granito encomendadas à peça nas pedreiras do norte.
Explicações que dou aos meus alunos, pois a Urbanística da Cidade é rica e ainda hoje se podem ver na Rua das Flores sinais aristocráticos em alguns edifícios e a sua desafogada largura e na rua do Almada a Urbanística barroca do perfil directo do arranque ao objectivo e a normalização construtiva exemplar que acabou por lhe marcar o comércio.