Da Escócia blá-blá-blá

Na Contra-COP, centenas de ativistas apontam o que é preciso fazer para o salvar. Entre ambos, um enorme fosso. Enquanto os últimos pedem ações concretas, os primeiros refugiam-se numa extensa carta de intenções. É assim, pelo menos, desde a Cimeira do Rio, em 1991. O que se avançou desde então para mudar o curso das coisas? Muito pouco. A Natureza, pelo contrário, dá cada vez sinais mais claros de saturação.

A mais de meio da sua duração, a COP26, reunida em Glasgow, na Escócia, torna evidente o que Greta Thunberg grita ao Mundo com a sinceridade própria dos mais jovens, dos que aparentemente nada têm a perder e, paradoxalmente, sentem o futuro ameaçado. Diz Greta: os´políticos insistem no blá-blá-blá, que não leva a lado nenhum. Ou melhor, conduz a um beco sem saída.

As decisões até agora tomadas em Glasgow fazem prova das acusações de Greta Thunberg e de milhares de jovens à sua volta. Um acordo para travar a desflorestação foi apresentado como uma vitória, o mesmo havia sido anunciado em 2014. Chega-se a 2020 sem o cumprir, em 2021, voltam ao início. Neste encontro, o metano parece estar a tomar o lugar que já foi do dióxido de carbono e são anunciados planos para reduzir as suas emissões. Como, se Rússia, China e Índia se colocam de fora?

Querem fazer crer ao Mundo que a energia baseada no carvão, a tão falada descarbonização, está em curso. Mas, olhando para o que nos chega da Escócia, facilmente se percebe ser essa mais uma ilusão. Belas palavras nos dizem que o Mundo deixará de consumir energia produzida com base no carvão: em 2030. E, claro, a China e os Estados Unidos não integram esse plano. Talvez em 2040, quando os países pobres o fizerem. Vão fazê-lo? Provavelmente, não. Afinal tudo isto não passa de bondosas intenções, nada de compromissos vinculativos, blá-blá-blá. Deixemos a Natureza fazer aquilo a que a obrigamos.

*Editora-executiva-adjunta