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Acho eu: um país que despreze os livros fica para trás e, por isso, considero a Feira do Livro o acto cultural mais importante da cidade. Nem admira: nasceram-me os dentes com os seus inícios na Praça, em redor da estátua. Aí com cinco anos, lembro-me de descer os Clérigos e, pela mão de meu pai, entrar naquele mundo essencial ao crescer por dentro (a par do óleo de fígado de bacalhau).
A Feira era um cenário teatral, com livros enormes, de folheta, alojando os livreiros do Burgo (a Educação Nacional, com os livros-miniatura, fazia as delícias dos aprendizes da leitura). Como a placa da Praça era reduzida, andava tudo aos encontrões, nos apertos dos 30% que, na época, sabiam ler. Na segunda fase, a Feira deu um salto, em tamanho e sítio, para os altos da Avenida. Já leitor compulsivo, fartei-me de fazer compras e retenho o episódio do dr. Sá Carneiro ajoujado de livros, que lhe enchiam os braços (a política ainda lia).
Quando a Feira passou para a Boavista, tudo se alterou. O sítio era húmido, tristonho e lamacento. Ali até sucedeu um imprevisto: marcaram uma sessão de autógrafos, simultânea, no pavilhão da APEL, para o Saramago e para mim. Lá fui, pensando: ele atrai toda a gente e eu fico a olhar. Tive sorte, pois as bichas não estiveram muito díspares. No fim, pedi-lhe um autógrafo na “Jangada de pedra”. Dedicou-o ao Helder Macedo (um excelente lisboeta) e respondi que não era eu. Pediu desculpa, pois conhecia os dois, e escreveu: “Com a simpatia e o mesmo amor pelo Porto - um abraço”. Fiquei a ganhar.