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A Filosofia, como disciplina escolar, constitui um potencial extraordinário para a formação dos jovens se tivermos presente o âmbito e as preocupações que, com variados matizes, marcam os questionamentos empreendidos acerca das relações entre conhecimento e mistério, estabilidade e evolução, humanidade e natureza, princípios e valores, etc. Questionamentos de que decorrem debates sobre vicissitudes do quotidiano como a violência e a solidariedade, a guerra e a paz, a religião e a laicidade, a cooperação e a rivalidade, o amor e o ódio, a comunicação e a informação…
Ignorados, sendo estes problemas incontornáveis, interpelam-nos sempre nas suas manifestações e pelas suas consequências, inclusive quando não nos apercebemos ou nos alheamos das causas e processos de onde emergem.
Os exemplos são muitos, todavia optámos por referir apenas a problemática da complexidade que, como vivência e como dinâmica processual, nos abrange incessantemente.
Vale a pena destacar afirmações como a de Henri Atlan quando este salienta que a dificuldade de uma tarefa está no seu “tamanho”, percebido este como o número de variáveis e dados a ter em consideração em função de um fim a atingir, embora não saibamos se o mesmo é atingível. Morin alerta-nos que o acaso denota a impotência do observador perante múltiplas formas de desordem, enquanto o acontecimento irrompe do caráter não regular dos factos e o acidente da perturbação provocada pelo encontro entre dois fenómenos organizados em que um se torna um acontecimento relativamente ao outro. Assim, tudo o que produz ordem e organização, entendida esta como um conjunto relativamente estável de interações, produz também desordens como potenciais geradoras de novas organizações.
É evidente que se passarmos de uma lógica interrogativa, de desconstrução de abordagens em que se privilegia a complexidade, em favor de um simplismo retórico do senso comum, sobretudo no âmbito dos discursos políticos, ganham certamente os seus autores em poder de persuasão e adesão o que os respetivos destinatários perdem em termos de efetiva interpretação, gestão e proveito dos factos e promessas deste modo apresentados.