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Na noite de 30 de Outubro de 2000, nos baixos do edifício a que chamávamos “O Paladio”, inaugurou-se a loja da Fnac no Porto. Acontecimento à francesa, requintado e repleto de "charme".
Com discursos da administração, vinda de Paris e de alguns portugueses (um seria o presidente da Câmara, Nuno Cardoso). Em elogios ao Porto e ao que se esperava de loja tão inovadora no ambiente do Burgo.
Por desígnios e conjugação dos astros, foram convidados para patronos do nóvel estabelecimento não santos populares mas dois "bichos da terra" ligados à vida social do Porto (sucedia nas inaugurações das lojas daquela cadeia). Um, compreensível, à altura da distinção, foi Manoel de Oliveira, o outro (pelos tais desígnios imponderáveis) era o escriva destas crónicas. Noite inesquecível, o meu colega de apadrinhamento, nas tintas para os discursos, ia comentando o que se passava na sala e fora dela.
A partir daí, a Fnac transformou-se em verdadeiro centro de difusão cultural na Baixa do Porto com actividade incessante na promoção do audiovisual, do livro e da leitura. O seu encerramento é uma ofensa ao melhor da cidade, substituído pelo pronto-a-vesir a metro. No último “Equalizer”, Denzel Washington liquida a tiro os mafiosos que querem transformar uma pacata aldeia amalfitana em hotéis de luxo. Em democracia a solução não são os tiros mas boas e justas leis que protejam as cidades (e o país) dos excessos turísticos, imobiliários e comerciais.
Sobrevivente de uma jornada agora interrompida ficariam as palavras na placa de prata que me ofereceram: "A Fnac agradece o seu amor pela cultura".
*O autor escreve segundo a antiga ortografia