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A greve geral de ontem é bem demonstrativa do que devem ser os próximos tempos na nossa política. O dia de ontem não trouxe grandes novidades. Para além do mediatismo habitual, dos constrangimentos no funcionamento dos transportes públicos, das dificuldades em aceder aos serviços de Finanças e das muitas fábricas com produção reduzida ou nula, pouco mais se passou. O que importa é retirar as consequências para o futuro.
Portugal tem uma situação muito difícil pela frente. As nossas contas públicas estão descontroladas. O sector privado vive com uma dívida astronómica, tanto das pessoas como das empresas. Os próximos dez anos exigem um grande esforço nacional para que se consiga atingir níveis razoáveis de crescimento. As previsões internacionais apontam para uma média de crescimento de um por cento do PIB até 2020, começando o desemprego a subir em valores na ordem dos três por cento...
Em traços muito gerais, desenhei um cenário sombrio. Nos próximos tempos, para além da contenção no sector público, Portugal vai necessitar de reduzir os seus custos de trabalho, o que pode passar por maior flexibilização laboral e uma reforma do sistema de Segurança Social. Vamos precisar de profundas reformas estruturais em áreas com a Educação e a Justiça. Teremos de baixar os custos da burocracia. Será natural ter de repensar o sistema de subsídios.
Muitos outros aspectos terão de fazer parte dos programas reformistas (e a eles voltarei mais tarde) mas hoje pretendo analisar as necessárias condições políticas. Portugal tem, actualmente, três partidos com vocação de Governo. Terão de ser eles a assumir, de forma duradoura e em conjunto, o caderno de encargos. Para isso é necessário que com recato se entendam sobre um conjunto de linhas gerais.
Ninguém pode pensar que uma expectável futura derrota eleitoral do PS leve à exclusão deste partido do arco da responsabilidade. Essa será sempre uma decisão sua, mas também dos restantes partidos do arco de Governo. Esses têm de reflectir hoje sobre a melhor forma de permitir essa inclusão futura, porque nas ruas deverão apenas ficar os partidos de protesto.