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A capacidade de estabelecer compromissos está fora de moda. Essa realidade é visível na guerra entre Israel e o Hamas e, por exemplo, no caso dos jovens ativistas que lutam contra as alterações climáticas. Ou tudo se resolve no imediato ou não há possibilidade de haver concessões. Isso seria um sinal de fraqueza. Esta atitude é pródiga em preconceitos e vazia de soluções.
Vivemos todos numa bolha egoísta e egocêntrica. Em certo sentido, fomos contaminados pelo que se chama “síndrome de Jerusalém”. Quem padece deste distúrbio afirma que teve uma epifania, tendo sido abençoado com algum tipo de missão divina na Terra. Isso pode suceder a alguém que visite os locais mais sagrados em Israel ou até mesmo antes de lá chegar. Por muito transcendental que pareça, não deixa de ser um pensamento egocêntrico.
“O denominador comum [da síndrome] é que as pessoas pensam que estão a vivenciar um momento de redenção iminente, que vai acontecer em Jerusalém ou em qualquer lugar próximo da região percorrida por Jesus”, explica Pesach Lichtenberg, professor da Universidade Hebraica, em declarações à BBC.
A síndrome, aplicando-se tanto a palestinianos radicais quanto a israelitas extremistas, tem como resultado a impossibilidade de uma paz duradoura. Parafraseando o escritor israelita Amos Oz, o compromisso também pode ser um filho da curiosidade. “Porque ao imaginar outras vidas (...) podemos sair de nossa sala de estar e ir ao encontro do outro, a meio caminho da ponte”, explica Oz, um pacifista que no final dos anos 40 do século XX participou na intifada contra o ocupante britânico.
A incapacidade de compromisso não se aplica só à guerra. Os modernos ativistas do clima querem tudo já, sem concessões ou transições. Não são soldados nem terroristas, obviamente, mas o seu radicalismo é vazio de soluções realistas. São mesmo incapazes de entender que a transição exigida já está no terreno. Não será instantânea, mas parece inexorável.