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O feriado regional do Porto é significativo motivo de festa. Este «S.João» contribui para a identidade de uma importante região do país. Mas, no contexto actual, deve ser igualmente razão para reflectir sobre reclamadas desigualdades deste Portugal.
Não sei avaliar a justeza dos planos que levam a aplicar a cobrança de taxas nas «SCUTS». Sei, todavia, que os gritantes sintomas de reacção das populações abrangidas são preocupantes sinais de um crescente mal-estar social.
O sufoco em que o país está metido para pagar as suas dívidas tem posto o Governo no dilema de arranjar dinheiro à pressa e a todo o custo. Tudo parece reduzido a esta simples equação: multiplicar receitas (por taxas e impostos); diminuir despesas públicas. Até agora tem sido, sobretudo, a primeira variável a ser imposta. Este esquemático enunciado, óbvio nos frios cálculos dos economistas, deixa quase sempre de fora o «factor social». Não me refiro aos custos sociais referenciados em despesas de saúde, segurança social, desemprego, etc., mas aos custos sociais da «revolta» e «indignação» a que, anteontem, aludia o presidente da Junta Metropolitana do Porto, Rui Rio: «As pessoas da Região do Norte estão à beira de se poderem revoltar». E se isto vem a propósito da questão das «SCUTS», qual «gota de água» - na opinião do autarca - «pelo tratamento discriminatório de que a Região do Norte tem sido alvo», reflecte um sentimento mais profundo por muitas outras razões, há muito tempo contido, nos cidadãos do Norte e de outras regiões.
O Parlamento, provavelmente, vai hoje reprovar a obrigatoriedade de serem colocados «chips» nas matrículas dos automóveis, expediente escolhido como necessário para executar a dita cobrança. A exigência formulada, agora, pelo PSD, - taxar as «SCUTS» ou é para todos ou é para ninguém - nem por isso fere menos as desigualdades. «Chips» de desigualdades no país e suas populações vêm de muito longe. De facto, ao rever os 67 milhões de euros que o Estado, em 2009, pagou aos concessionários das sete «SCUTS», é fácil perceber como estas auto-estradas, em tempos de apertada crise, se tornaram em «becos sem saída». Há muito que os defensores da filosofia «utilizador/pagador» deveriam ter pensado da dificuldade de implementá-la num país tão desigual. Politicamente, é importante ter consciência que para valer à crise não vale estar a espalhar pelo país focos de «revolta social». Assim ninguém pagará o que se deve.