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Não vi um único minuto do jogo sobre o qual me proponho escrever. Paredes de Coura é, por esta altura, um apelo mais forte, centrípeto. No entanto, sabia que a minha equipa não estaria só, nunca está: 19 000 vitorianos provaram-no nesse fim de tarde. Vitorianos à procura da Terra Prometida que, desde sempre, apenas está disponível para a enjoativa aristocracia do futebol português. Mas, face às circunstâncias, ficamo-nos pelo propósito bíblico de um dia a alcançar. E isso é-nos suficiente. O arranque não foi o melhor, mas ganhamos agora na raça e esperamos que os bons resultados tragam o bom futebol. Caso isso não aconteça, estaremos, na mesma, sempre cá. Geração após geração.
Na idílica paisagem do festival - de natureza e de pessoas - começamos por ver as Chastity Belt com uma das vocalistas a desafinar. O Vitória desafinava igualmente, sofria golo e o cinto da castidade defensiva desmoronava-se uma vez mais. Recuperamos, contudo, com os nova-iorquinos DIIV e apesar da atenção ao concerto, os vitorianos que me circundavam trocavam as informações necessárias. Entreolhamo-nos, no meio da música, como uma espécie de maçonaria cósmica que compreendia o que se estava a passar. Estamos na frente e a guitarra de Zachary Cole Smith ecoava vibrante no espaço entre as árvores. Mas só garantimos mesmo a vitória com as divertidas e enérgicas Hinds. Gracias, gracias, diziam elas e nós quando o jogo terminou com uma vitória importante para caminhar em frente com mais alguma luz.
Da terra alcançável da música vê-se um enorme fosso na terra inalcançável da bola. Ficará em nós sempre o propósito.