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A crónica de hoje parece tétrica mas, perante o que se vê nos telejornais, nem por isso. E o assunto tem a ver com o falado aumento da violência relativamente ao passado. De facto, consultando a imprensa de algumas décadas de novecentos, fiquei surpreendido com a criminalidade nela patenteada (muita, com origem em excessos alcoólicos) e os assassinatos então frequentes. Revelo alguns, sem falar no famoso «crime do homem salgado», que abalou o burgo. Em 8.4.1902, o JN falava na rixa, à facada, junto de uma taberna na Rua Direita de Francos, com um morto e um ferido grave. Em 20.9.1904, aconteceu o assassínio cruel chamado “das velhas de S. Lázaro”, duas senhoras idosas “possuidoras de grande fortuna”. Não seria fácil encontrar o responsável, mas, num mês, a polícia conseguiu deslindar o caso e prender o criminoso. A cidade rejubilou.
Em 12.11.1909, o CP noticiava: “Drama sangrento: morte e ferimentos graves”. Sucedeu na Rua dos Clérigos, quase ao modo romântico: o dono da casa, lojista de modas, encontrou o caixeiro e a esposa na cama conjugal, matou-os a tiro e confessou o crime. Esta amostra (a descrição completa dava um grosso volume) permite-nos, penso eu, uma conclusão. Na época descrita (sete anos) a cidade oscilava entre os 165 mil habitantes (em 1900) e os 194 mil (em 1909). Com os arredores, andaria, talvez, nos 300 mil. Na actualidade, o conjunto metropolitano ultrapassa o milhão e o grau de violência noticiado está longe do período em causa. Vendo bem – salvo ratoneiros ou droguistas –, o mundo mais próximo não está tão mau como parece.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia