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Falar em fé e ressurreição dias após a celebração da Páscoa, numa quadra em que se fala com especial relevo em dar novas oportunidades à vida, conduz-me às imagens que continuamente nos chegam dos refugiados a tentar entrar no território europeu. Não podemos naturalmente ficar indiferentes às reportagens sobre a crise humanitária nem aos testemunhos das vítimas da guerra. No verão fomos assombrados com a fotografia de Aylan Kurdi, o menino sírio-curdo de três anos, vítima de afogamento e cujo corpo foi levado pelo mar até ao areal de uma praia grega. Agora somos confrontados com fotografias de milhares de pessoas em campos de refugiados que nos trazem à memória imagens das vítimas de outras guerras, afinal de contas ainda tão próximas de todos nós.
É com angústia que revejo estas imagens. Arriscar a vida para dar nova oportunidade à vida é o maior ato de superação e coragem ao qual não podemos assistir sem nada fazer. A concentração de esforços tem necessariamente de começar pelos países ditos civilizados e, como facilmente se pode concluir, não basta abrir fronteiras e permitir a entrada de milhares de refugiados ou, como se fosse uma alternativa, fechá-las e depositar as vítimas em campos sem as condições mínimas de dignidade humana.
Está na hora de os países da União Europeia se entenderem para se poder dar uma nova oportunidade à vida dos milhares de refugiados. Sejam crianças, mulheres ou homens, uma família ou milhares de pessoas, todos deviam ser recebidos como verdadeiros heróis e acolhidos com a bondade que a natureza humana exige. Não podemos culpar a burocracia nem assinar tratados de intenções sem eficácia no terreno. Impõe-se um entendimento generalizado a ocidente para a plena integração destas vítimas.
Sei que escrevo num momento difícil e sensível para esta questão. E é por isso mesmo que o faço, porque temos urgência em tratar e tomar conta destas pessoas, antes que alguns se continuem a infiltrar e tomem conta de nós. Escrevo a partir do Norte de Portugal, uma das regiões mais seguras, que se destaca no top da OCDE, e porque não vejo na segurança um privilégio exclusivo de quem cá vive, de quem nos visita ou de quem aqui faz negócio. Para bem da dignidade dos cidadãos, esta bandeira não pode ser um luxo apenas para alguns. Somos todos cidadãos do Mundo e todos temos o direito à dignidade na vida.