"Adiar projectos de investimento é perder as oportunidades. É adiar o reforço do nosso posicionamento como porta de entrada na Europa", quem o disse foi Teixeira dos Santos, numa visita recente ao Porto.
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É por isso que o Governo insiste em construir o novo aeroporto de Lisboa, a terceira travessia em Lisboa, a linha de alta velocidade de Lisboa a Madrid: ou seja, projectos que têm Lisboa como denominador comum, e que por isso farão da capital a única porta de entrada, já que adiou para as calendas os grandes investimentos a Norte, nomeadamente as duas linhas de alta velocidade que teriam o Porto como denominador comum. Assim, o Porto perde as oportunidades de que o ministro fala e que, doravante, estarão reservadas a Lisboa. Concordando com o remédio, porque é disso que se trata, de adiar os grandes investimentos, discordo que seja o Norte, que está na penúria, a pagar o preço integral da farmácia. Se o Governo tem de adiar ou de cancelar obras, deve explicar porque insistiu em prometer aquilo que não podia fazer e justificar os seus critérios. É que, avaliando as prioridades das obras faraónicas, parece óbvio que o novo aeroporto em Alcochete é a menos urgente. Se a Portela chega para as encomendas, já que a estagnação do tráfego desde 2007 lhe prolonga a vida útil, não faz sentido destruir o valor desse aeroporto, onde há investimentos em curso, para antecipar a construção de uma alternativa que drena recursos escassos. É inaceitável que, por razões de clientelismo, se façam escolhas que contrariam o princípio da solidariedade territorial e a racionalidade económica.
2. Também nos impostos, o Governo deu o dito por não dito, ainda que Sócrates insista em negar a evidência. Ouvíramos, meses a fio, garantias de que não haveria agravamento da carga fiscal, ao contrário do que era sugerido, por exemplo, pelo governador do Banco de Portugal. Sempre desconfiei da divergência entre o solícito Constâncio e o Governo que, como agora se comprova, mais não era que um embuste. Os impostos vão aumentar e, ao contrário da demagogia socialista, não serão os ricos a pagar a crise, pois a carga fiscal aumenta para mais de metade das famílias. Ora, se por falta de condições políticas e sociais para reduzir a despesa, é preciso aumentar a receita, o Governo deveria ter aumentado o IVA, seguindo o exemplo espanhol. Esse aumento penalizaria os que mais consomem, e que de facto são mais ricos ou têm mais rendimento disponível, e moderaria o consumo de bens importados. O problema, se calhar, é que foram estes senhores que, por razões eleitoralistas, desagravaram o IVA de forma imprudente, quando a crise já se fazia sentir.
3. A saída para esta crise não é fácil, tanto mais que a nossa economia pode estar a entrar numa nova recessão. Resta esperar que as economias europeias comecem a crescer e nos reboquem através das exportações. Até lá, precisaremos de conter os danos, o que implica que não seja o sector privado a suportar a factura. O problema é que a gestão da crise não pode ser feita através de políticas furtivas. Um governo que nos engana sucessivamente, de forma metódica e compulsiva, não pode governar bem, porque cria falsas expectativas. Quem não nos conta toda a verdade não deve merecer a nossa confiança, nem tem autoridade moral para nos pedir tantos sacrifícios. Como tem dito Alexandre Soares dos Santos, que não precisa do Estado e pode dar-se ao luxo de dizer o que muita gente pensa, é preciso promover a liberdade e a verdade, combatendo a mentira.