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Em Portugal, os dirigentes públicos com cargos na área da Saúde têm um tempo de vida similar à cabeça de um fósforo. Sejam eles presidentes de institutos, líderes hospitalares ou, tão simplesmente, ministros. Esta fragilidade não está necessariamente ligada à falta de competência ou de aptidão dos escolhidos. A explicação é outra: o setor vive há anos em modo de urgência e refém de estratégias políticas que moldam as decisões ao sabor dos ventos ideológicos. Os dois maiores partidos foram incapazes de se entender sobre as prioridades, se excetuarmos o facto de declararem amor incondicional ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e de estarem de acordo com a necessidade de, ano após ano, injetarmos quantidades astronómicas de dinheiro público na gestão da saúde. Dirão: nenhum cêntimo gasto no SNS é mal gasto. Não é bem assim. Uma gestão mais eficiente dos recursos não é incompatível com uma resposta qualificada e atempada oferecida aos utentes.
A ministra da Saúde anunciou, agora, uma fornada de novas medidas, depois de demitir o presidente do INEM (o quarto em cerca de um ano) e de ter voltado a deixar os sindicatos do setor de cabelos em pé (o que, verdade seja dita, também não espanta, uma vez que parece impossível satisfazer todos os pedidos do pessoal médico). É neste quadro de crispação endémica que a saúde pública terá de continuar a defender-se dos avanços do setor privado, sabendo perfeitamente que jamais terá as mesmas armas. O SNS é uma vitória coletiva da democracia. Sem estabilidade, continuará a perder caminho para os grandes grupos e seguradoras. Mas para haver saúde, é preciso tempo.

