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O Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrenta, atualmente, a maior ameaça de sempre à sua existência e à sua capacidade de fornecer cuidados de saúde de qualidade.
Perante isto, um dos pontos cruciais deste desafio reside na necessidade urgente de restaurar a dignidade dos médicos, no sistema de saúde.
No SNS, os médicos têm vindo a ser afetados por crescentes dificuldades que atingem significativa e negativamente quer a sua moral, quer o seu bem-estar. Os baixos salários, o aumento das horas de trabalho e a sobrecarga de pacientes são apenas alguns dos problemas que contribuem para a perda de dignidade e motivação.
Já há muito que lhes escasseia tempo para estudo, para atualização científica, para investigação e publicação, para viver, para ter família...
Ora, tudo isto associado a uma remuneração inadequada constitui uma condição crítica que leva muitos médicos a procurar emprego noutros setores e mesmo noutros países, onde os salários são mais justos e as condições de trabalho mais favoráveis. Esse êxodo de talentos tem vindo a deixar o SNS com uma profunda insuficiência de profissionais qualificados, que resulta em atrasos no atendimento, longas listas de espera e, em última análise, numa diminuição na qualidade dos cuidados de saúde prestados.
Restaurar, insisto, a dignidade dos médicos é crucial, para garantir a sobrevivência e a tão necessária eficácia contínua do SNS. Reconhecer a importância vital do trabalho médico na sociedade portuguesa deve ser uma prioridade não só para o Governo mas também para todos os responsáveis pelas políticas de saúde. Isso implica não apenas aumentar a remuneração dos médicos mas também garantir que as condições de trabalho sejam adequadas e que haja um equilíbrio saudável entre a carga de trabalho e a qualidade dos cuidados prestados.
A dignificação do papel dos médicos não se resume apenas a questões financeiras. Envolve, acima de tudo, proporcionar um ambiente de trabalho favorável, investir em formação contínua e permitir que tenham voz ativa na tomada de decisões que afetam diretamente a prestação de cuidados de saúde.
Reconhecer publicamente a dedicação e o empenho dos médicos na linha de frente do SNS pode ajudar a restabelecer o respeito e a confiança da sociedade pela profissão médica, incentivando deste modo uma maior adesão e contribuindo para a sustentabilidade a longo prazo do sistema de saúde português.