Corpo do artigo
A melhor notícia recente sobre o viver da cidade foi a da reabertura, em Filipa de Lencastre, do mais que centenário Armazém dos Linhos.
Uma vitória do espírito tripeiro e da resistência ao rolo compressor apostado em, aproveitando as circunstâncias, rasurar a identidade portuense. E, em especial, da dignidade de não desistir. Mas devemos separar as águas e identificar com rigor cada situação. Há casos em que a loja de tradição encerra por perder o sentido da função, tornando-se obsoleta; outros em que ao proprietário é oferecida uma fortuna para sair (e, às vezes, finge-se de mártir); ou em que existe pura especulação e os novos proprietários dos imóveis alteram astronomicamente as rendas, ou, simplesmente, dizem: "rua, que precisamos disto"; e ainda há lojas a encerrar por morte dos proprietários e ninguém os substitui. E haverá mais razões, justas ou oportunistas.
A verdade é que, a par do despovoamento da cidade, por cálculo ou incapacidade para o combater, o encerramento de espaços comerciais constitui um cancro que corrói o carácter do Porto. E não me falem em culpas do turismo, etc., porque a morte de cafés da Baixa sucedeu com o assalto bancário dos anos 60 e 70. O assunto continua em aberto e terão de ser concedidos aos municípios meios eficazes para a defesa do Bem Comum (sem atropelar o Bem Individual).
De qualquer modo, sinto um misto de tristeza e revolta quando passo nos Clérigos e vejo o espaço da Tavares Martins, uma das mais relevantes livrarias e edito-ras portuenses (até possuía um painel de Mestre Dordio Gomes!), transformado em loja de quinquilharia.
* Professor e escritor