Rui Moreira acaba de cumprir o primeiro ano de liderança da Câmara do Porto. Há 12 meses, poucos seriam os que acreditavam na possibilidade de o então líder da influente Associação Comercial do Porto chegar à cadeira ocupada durante 12 longos anos por Rui Rio.
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Em boa verdade, mesmo no círculo mais restrito de Moreira, a aventura só passou à fase Red Bull (isto é: começou a ganhar asas) já muito perto do ato eleitoral. Luís Filipe Menezes cometeu erros básicos e Moreira teve a inteligência de não se desviar um milímetro da estratégia desenhada desde o início. Os portuenses perceberam três coisas: tinham à mão de semear um político "diferente"; estava ali um tipo que não rasgava, antes aproveitava, a parte boa do legado de Rui Rio; e, sobretudo, estava ali um tipo que, vindo das classes altas da cidade, fala à moda do Porto: é frontal, não manda dizer, tem a espinha direita. Foi eleito, para grande surpresa dos mais distraídos.
O que pode dizer-se da gestão de Rui Moreira, findo o primeiro ano de mandato? Deve dizer-se que, excluindo os "casos" Daniel Bessa e Sampaio Pimentel, politicamente mal geridos, o concelho está bem e recomenda-se. De 0 a 10, Rui Moreira merece um 8. E porquê? Rapidamente: porque a cidade respira, hoje, muitíssimo melhor, está mais alegre e, logo, mais disponível para se construir como entidade e identidade; e porque, com a preciosíssima ajuda de Manuel Pizarro (PS), Moreira tem sabido tratar dos dossiês mais delicados com calma, paciência e determinação. Para rimar: falta resolver o Bolhão.
Ontem, numa entrevista à TSF, entre críticas certeiras à atuação de Cavaco Silva e repetidas análises ao desaconselhável estado da democracia portuguesa, vitimada pelo crescente hiato entre eleitos e eleitores, Rui Moreira jurou a pés juntos: "Não sairei daqui [Câmara do Porto] para outro cargo qualquer, não terei nenhum papel na política nacional a nível partidário ou a nível de Governo". Não há motivo para duvidar da palavra do autarca portuense. Mas há motivo para apostar (arriscaria dizer: singelo contra dobrado) na possibilidade de as circunstâncias se "imporem" à vontade de Rui Moreira.
Sobre o facto de estarmos a assistir ao nascimento de um novo ciclo político não restam quaisquer dúvidas. Os contornos do dito-cujo são ainda pouco nítidos - e por isso mesmo dados a muitas especulações e ao desenho dos mais variados cenários. Mas uma coisa é óbvia: os eleitores, em particular, e o povo português, em geral, estão cada vez mais disponíveis para ouvir o que têm a dizer políticos como Rui Moreira e cada vez menos disponíveis para ouvir o que (ainda) têm para dizer os políticos "do costume". Moreira não é um político "do costume". Ele sabe disso e constrói a sua imagem sobre isso.
Donde: está escrito nas estrelas que, mais cedo ou mais tarde, Rui Moreira começará a ganhar balanço para outros voos. Creio que será uma boa notícia.