De animadores a consistentes
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Após os entusiasmantes números do primeiro trimestre, os últimos dados das exportações vieram refrear os ânimos na economia. Junho trouxe uma quebra de 3,4% no volume de bens transacionados com o exterior e concluiu um ciclo de três meses sucessivamente negativos. Se a desaceleração é conjuntural ou não, só os próximos meses dirão. Mas há sinais animadores.
Um deles resulta do facto de, retirando os combustíveis da equação, as exportações recuperarem o terreno positivo.
Outro dado interessante é a evolução que se vai registando em alguns setores específicos, com forte peso na atividade económica do país. Veja-se o exemplo do setor alimentar, com números recorde no comércio internacional de frutas e legumes. Ou do vinho, que exportou mais 3,9% no primeiro semestre. Mas também em setores de maior valor acrescentado, como os produtos de alta tecnologia, que superaram em 2022 a marca dos quatro mil milhões de euros de vendas. Um último exemplo na metalurgia e na metalomecânica: a fileira registou, este ano, o melhor semestre da história, com um crescimento nas exportações superior em 11,6% face a 2022.
Estes resultados demonstram que as nossas empresas estão comprometidas com a aposta nos mercados internacionais e já perceberam que o caminho da competitividade é qualificar, inovar e vender fora. Em vez de esperaram pelo milagre da procura interna - que está praticamente estagnada - têm de fazer todos os dias pela vida, para manterem um modelo de negócio viável.
Este é, contudo, um caminho de pedras no nosso país. As empresas enfrentam um quadro regulatório instável e inflexível, com encargos fiscais e contributivos extremamente pesados, e com uma crise de mão de obra sem precedentes. Uma espécie de pescadinha de rabo na boca, que inibe o investimento, a melhoria dos salários e a retenção de talento. Não admira, portanto, que os recentes indicadores de emprego demonstrem uma perda gradual de atratividade nas qualificações mais altas.
Para que os resultados passem de encorajadores a consistentes, há muito a mudar. A começar pela política fiscal e, se não for pedir muito, já no Orçamento do Estado para 2024.