Li que António Costa vai fazer esta estrada como uma espécie de aquecimento da campanha que se avizinha.
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É uma boa ideia, porque a N2 está na moda, se pensarmos que garante notoriedade e permite uma volta a Portugal menos hipotecada ao rodeo concelhio ou distrital.
Fi-la em passeio no ano passado e pude descobrir um extraordinário Portugal do meio, diverso, bem tratado e... quase deserto.
Seria, por si, um excelente exercício perceber de que forma esta espinha dorsal poderia constituir-se como uma passadeira estendida a todos os visitantes daqui e de fora, estruturando serviços e oferta turística que pudesse interpretar o que se vê e, quem sabe, irradiar ideias e emprego para cada um dos lados.
Mas, na verdade, para valer a pena, a N2 deveria ser capaz de convocar todos os partidos e todos os líderes políticos para a discussão que se impõe sobre povoamento e governação.
Nada mais é tão preocupante nem tão urgente. E ninguém será capaz de encontrar a solução isoladamente. A ser palco eventual de tempos de antena, transformar-se-á em arremesso partidário e fratura ideológica.
E é pena, porque a inevitável cavalgada mediática que seguirá António Costa não deixará de munir os humoristas de serviço com toda a espécie de facécias ou de estimular o discurso frívolo das sete maravilhas do interior que se descobre num fim de semana.
A N2, pelo alcance físico que tem e pelo que põe a descoberto, é um eixo de rara importância e consistência sobre o que corre por debaixo da pele de um país. Tratar este território com superficialidade é um desperdício a roçar a falta de respeito. Defendê-la apenas como um recurso turístico, demasiado redutor.
Talvez a Associação dos Municípios que atravessa pudesse fazer desta linha contínua o símbolo e o catalisador de uma discussão igualmente continuada sobre como sobreviver a um Portugal sem portugueses e a terras sem emprego.
Para além do postal ilustrado, que hoje amarelece ainda antes de ser escrito!
*Analista financeira