À partida, o facto de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, ter ido ver as marchas populares a Lisboa na companhia de António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, não passa de um ato de cortesia, de resto retribuído pelo candidato a líder do Partido Socialista (PS), que virá à Invicta divertir-se na noite de S. João. Da mesma forma, à partida, o facto de Rui Moreira ter sido homenageado na Associação Comercial do Porto (ACP) esta semana, num repasto que juntou 150 influentes personalidades do Porto e arredores, não passa do reconhecimento pelo trabalho feito por Moreira durante os anos em que liderou aquela instituição. Como, à partida, a anunciada entrega da Medalhada de Honra da cidade do Porto a Rui Rio, pelos inestimáveis, incontornáveis e incomensuráveis contributos prestados pelo dito cujo à Invicta, também não deve ser mais do que um gesto de simpatia.
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À partida, tudo isto pode ser verdade. Pode pertencer tudo ao domínio da coincidência. Mas, francamente, a mim parecem-me coincidências a mais para serem meras coincidências. São, digamos assim, acasos a mais para terem acontecido por mero acaso. Ou muito me engano, ou isto anda mesmo tudo ligado. E o que liga tudo isto? A atração pelo centro político, ponto a partir do qual se conquistam vitórias e, consequentemente, se forjam projetos de poder. António Costa, Rui Moreira e Rui Rio têm muito mais coisas a uni-los do que a separá-los. Por que não hão de ser eles a proporem-se para, em conjunto, salvar a esta desditosa Pátria?
De maneira umas vezes mais, outras vezes menos ideológico, o Governo puxou, com uma força inusitada, o tapete da política doméstica para a direita. Juntou-lhe avanços e recuos, ziguezagues e tropeções. Exemplo: neste caso da guerra aberta com o Tribunal Constitucional, gastou tanta pólvora que, a dada altura, a violência do ricochete passou a ser maior do que a do tiro. De tal modo que chegamos a um ponto de absoluto pasmo: o Governo que amedrontou os portugueses com o perigo de a última caterva de dinheiro da troika poder não chegar aos cofres do Estado é o mesmo Governo que, dois dias depois, diz aos mesmos portugueses que, afinal, não precisamos do pilim. A política de comunicação do Executivo de Pedro Passos Coelho será um frutífero caso de estudo no futuro: é difícil fazer pior.
O vulcão da crise económica e financeira do Estado português libertou lava sobre o sistema político, como não podia deixar de ser. A extensão das alterações ainda não é evidente. Contudo, bastante evidente já é o facto de vários protagonistas estarem a posicionar-se para não serem apanhados de surpresa. São eles, em certa medida, que estão a moldar, com cuidado mas cada vez mais às claras, o quadro da política portuguesa. E entre eles estão António Costa, Rui Rio e Rui Moreira. Não é acaso. Nem coincidência. É política.