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A Idade Média fica marcada pelo período histórico em que se passa do irracional para o racional, com a ideia de um direito justo e aplicável a todos. Época em que a consciência coletiva desperta para a necessidade de um poder soberano, acabando com a anarquia e o poder do mais forte. A justiça substitui a vingança pessoal e passa a ser o rei quem detém a autoridade, num processo embrionário para que a justiça passe a ser um dos pilares fundamentais para a ideia de um Estado de direito democrático.
Perante a exibição de um cartoon que, ao ser enquadrado num espaço publicitário, não é confundível como arte ou como humor (pois que senão, tudo é arte, tudo é humor: é só invocar) e que consideramos ofensivo, decidimos formalizar uma queixa, sem ímpetos de vingança ou de ofensa gratuita.
Temos para nós que o humor pressupõe o seu reconhecimento como tal, ou seja, como “declaração não séria” e, por seu turno, podendo considerar-se a forma do cartoon como arte (em geral), já o seu conteúdo não se traduz numa criação, mas numa estereotipação grave de um determinado grupo de pessoas.
Ora, criticar o SNCC por ter recorrido à justiça, afirmando ser um atentado à liberdade, o que verdadeiramente se ataca é o exercício de um dos direitos pilares da democracia.
Sejam comentadores, mestres de opinião, colunistas ou membros de um Governo, não há e nem pode haver “donos” da democracia. O recurso à justiça (principal garante da paz social) não pode e não deve merecer censura, sob pena de fomentar procedimentos alternativos ou ditatoriais. Não o aceitar, não o compreender ou, pior ainda, negá-lo a uma classe profissional é um ato grave de discriminação e, portanto, antidemocrático!