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Num artigo de opinião luminoso, publicado no "Observador", Helena Matos diz o seguinte: "Do absurdo. As dinâmicas do absurdo são essenciais aos processos de controlo das sociedades, sobretudo daquelas que se consideram livres. O caso da aprovação em catadupa de legislação sobre assuntos ultraminoritários é disso sintomático: não só muitas vezes não se resolve problema algum como até se criam outros bem maiores, como a legalização das barrigas de aluguer prova à exaustão. Na prática a coisa funciona mais ou menos assim: o BE põe o assunto na agenda. Não interessa a sua relevância ou a falta dela. Muito menos se trata de resolver problemas, mas sim de intervir ideologicamente. A ala esquerda do PS faz uma fuga em frente. Os Verdes fazem prova de vida e o PAN dá um ar da sua graça. Já o PCP tenta não ficar para trás. O PSD e o CDS procuram não ficar mal na fotografia. Posta a máquina em movimento, saem três artigos sobre o assunto. Invariavelmente estão repletos de testemunhos de pessoas que garantem que têm direito a ser felizes e que só serão felizes se a lei lhes permitir fazer aquilo que os autodenominados avançados defendem".
E continua, explicando como através deste mecanismo vários dossiers muito minoritários e ditos fraturantes têm sido apressadamente legislados naquilo que parece ser tudo menos um exercício de libertação.
Pus-me a pensar e acho que Helena Matos está coberta de razão. Ainda não percebi bem o que se passou com as barrigas de aluguer e já dou comigo aflita com a autorização para a mudança de género aos 16 anos. Ainda sem perceber o peso que suportam hoje alguns jovens de 16 anos, já me gritam em todos os jornais e ecrãs que tenho de ter uma opinião sobre a eutanásia.
Fico muito aliviada por não forçarem um referendo e muito preocupada com as consequências que toda esta falta de ponderação e de debate nos trará.
Mas se quiser manter-me no domínio da política que não é de costumes, verifico que o método se mantém.
O PSD achou por bem pedir esclarecimentos a Manuel Pinho no Parlamento: bem visto! Este respondeu, pelos vistos, que só o faria depois de prestar declarações ao Ministério Público: aceitável!
Mas eis senão quando o Bloco de Esquerda, aborrecido por não ter tido a ideia primeiro, já apregoa não poder ser nada assim, por tem de ser uma comissão de inquérito porque a comissão é que dá resultados... Pois, tem-se visto...
Mas como gritou mais alto e porque a Comunicação Social lhe amplifica sistematicamente a voz, lá vamos nós para o discurso politicamente correto de todos os outros. Que tem de ser... a bem da democracia!
Lembro-me de Pinheiro de Azevedo e fico chateada. É que não gosto que me sequestrem!
ANALISTA FINANCEIRA