Estamos, decididamente, em tempo de vacas magras. Magras e loucas! Mesmo com o Natal à porta - que é tempo de esperança - o nível de optimismo dos portugueses não está em alta. Nada que não fosse já esperado, nada que, de algum modo, nos deixe agora espantados. Também por isso, contribuir para que o pessimismo tome conta do nosso dia-a-dia parece ser um mau serviço que prestamos a nós próprios e a todos quantos nos rodeiam. Por isso, procurar o lado bom das coisas é uma espécie de obrigação ou, pelo menos, uma espécie de obra de misericórdia que se nos impõe.
Corpo do artigo
Contudo, as coisas não estão bem. São poucas as boas notícias e ainda menos as que nos poderiam empolgar. Isto torna as coisas ainda mais difíceis. Pior do que o vazio do dia de hoje é a ausência de perspectivas para o dia de amanhã. E não há sociedade que possa viver sem saber para onde vai. Falta um gesto de incentivo, falta uma palavra de incitamento. Falta esse gesto e essa palavra por parte de quem tem a responsabilidade de a dizer e, sobretudo, por parte de quem se propôs conduzir a coisa pública. Faltam, assim, gestos e palavras, mas faltam, sobretudo, razões para que os gestos e as palavras possam acontecer e façam algum sentido.
Não há muito tempo, em conversa com um dirigente catalão de visita a Portugal, falava-se das razões do protagonismo de Barcelona não apenas na cena europeia mas, também, na cena mundial. Todos julgamos conhecer as razões que, no essencial, estão na base desse protagonismo e que, dum modo geral, têm a ver com uma capacidade de realização e com o grau de aproveitamento das oportunidades que o trabalho aturado - que, para alguns é a "sorte" - trazem à cidade e à região e no esclarecimento duma classe dirigente que, desde há longos anos, tem sabido gerir os recursos de que dispõe e, para além disso, tem sabido fazer reverter a seu favor - e de modo afirmativo - as eventuais fraquezas duma "autonomia" em tensão permanente com o velho centralismo madrileno. Contudo, esse responsável catalão, reconhecendo, embora, a razão de tais argumentos, considerou que não deviam ser negligenciados dois outros aspectos que, do seu ponto de vista são capazes de potenciar todos os outros, a saber: a grande vitalidade da sociedade catalã traduzida numa participação constante em todas as questões que, de qualquer modo, interessam à comunidade, por um lado, e, por outro, uma "atitude" perante a vida e as coisas que dito na língua de Cervantes tem outra sonoridade e outro sabor e que é a expressão, "pecho adelante!".
A verdade é que não há assunto relevante - e há sempre um assunto relevante para os catalães - que não produza quaisquer centenas de intervenções públicas importantes sobre esse mesmo assunto, sem contar com as múltiplas e circunstanciais abordagens nos mais diversos meios de comunicação mas que também fazem história e contam para o resultado final! E se a capacidade para produzir matéria relevante sobre qualquer assunto é uma condição "sine qua non" para que esse assunto tenha significado, não menos importante é a forma como a discussão é feita e a decisão que é tomada. Fazer uma coisa e outra com "pecho adelante" que o mesmo é dizer, com decisão e com convicção e não de forma mitigada ou timorata, é essencial para o sucesso de qualquer "empreitada". Não basta, por isso, aproveitar as oportunidades. É essencial saber aproveitá-las. Fazer as coisas com convicção, empenhadamente e querendo mesmo ganhar e não simplesmente acreditando que se pode ganhar, é fulcral. Acreditar em milagres ou apenas na sorte que sempre há-de bafejar ou proteger quem confia, não chega! É, de facto, essencial que haja um "clic" que torna o apenas possível no eminentemente realizável.
A cidade e o país não podem deixar que a sua voz se extinga nem que o seu "peito" se dobre ao peso dum futuro que ameaça tornar-se cada vez mais cinzento se, por ele, nada for feito e "de peito aberto" que, dito na língua de Camões, também tem de ter força!
