Portugal põe hoje fim a um longo período em estado de emergência. Senti uma grande alegria, quando a decisão foi anunciada. Foram pesados estes longos meses. No entanto, convém não esquecer que o vírus continua entre nós.
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Podemos regressar a um quotidiano mais livre de restrições, mas não devemos abandonar as medidas de prevenção. A trágica situação da Índia lembra-nos que o pior nunca estará para trás.
Como é hábito, o dia começa com a leitura da Imprensa. Ontem, prendeu-me o destaque do "Courrier International" sobre as férias de verão. Em capa, vê-se um viajante num qualquer aeroporto, dispondo de um passaporte de vacinas que lhe concede um livre-trânsito para qualquer lado. A leitura desse dossier permite perceber as questões éticas que tal documento levanta e os problemas políticos subjacentes a tal decisão. Cita-se o caso da China, cujo certificado só reconhece vacinas chinesas, e aponta-se a possibilidade de a Europa apenas validar vacinas aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento. Ora, escusado será dizer que o sucesso destes passaportes depende da cooperação transfronteiriça, a qual, como se antevê, não será simples. A partir de várias geografias, sabe-se que as regras serão diferentes. Na Grécia, restringe-se a circulação neste fim de semana de Páscoa ortodoxa para depois libertar o país a fim de salvar o turismo; na Croácia, promovem-se cruzeiros com paragens nas principais cidades, segregando-se aí os turistas da população local; em Itália, o ministro do Turismo abriu uma caixa de Pandora ao colocar a possibilidade de se vacinarem já todos os cidadãos das ilhas com mais turismo... Como se intitula numa peça retirada do jornal "The New York Times", o que parece interessar é viajar, não importa para onde...
Em Portugal, os números reduzidos de mortos e de internamentos lançam-nos numa bolha de esperança e quase nos conduz à crença de que a pandemia passou... Para quem pensa assim seria aconselhável ler com atenção a edição da "Time" desta semana que destaca a situação da Índia. As fotografias que falam desta tragédia sanitária ficam cravadas em nós durante muito tempo e o relato jornalístico quase nos paralisa, tal é o choque que sentimos. Fiquei muito impressionada com a referência a um homem que carregava na sua bicicleta a filha e a mulher infetadas com covid e que andava de hospital em hospital em busca de uma vaga de admissão para elas.
Na verdade, o perigo não passou. Por cá, sentimos que encerramos uma etapa, mas todos somos responsáveis em relação ao que sucederá num futuro próximo.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho