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A Venezuela dificilmente é comparável aos EUA e vice-versa, quer do ponto de vista político quer económico. No entanto, não deixa de ser curioso termos dois candidatos à presidência daqueles países com tiques autocráticos. Donald Trump garantiu a uma plateia de cristãos que, caso venham a votar na sua candidatura, “dentro de quatro anos não terão de fazê-lo de novo”. Nicólas Maduro, o candidato herdeiro de Hugo Chávez, impediu a entrada da maioria dos observadores internacionais que iam seguir as eleições de domingo e disse que reconhecerá o árbitro eleitoral [o Conselho Nacional Eleitoral] e os boletins oficiais, assegurando “que esses sejam respeitados”. Será que só alguns serão respeitados?
Um líder autocrático pode procurar a legitimação através de ideologias, propaganda ou manipulação de informações para justificar a sua autoridade e manter o controlo. Essa é a via de Trump, uma vez que está enquadrado numa democracia ocidental, apesar de ser suspeito de crimes graves. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu que a imunidade criminal dos presidentes americanos é limitada. Trump poderá vir a ser julgado pelo seu comportamento na invasão do Capitólio em 2021. Mas a decisão não teve impacto legal na atual corrida à Casa Branca.
O caso de Maduro é diferente. Trata-se de um autocrata que recorre à censura, à vigilância e à repressão para eliminar qualquer forma de dissidência ou desafio à sua autoridade. É frequente as eleições serem livres só na aparência neste país. A estrela política Maria Corina Machado, por exemplo, foi impedida de avançar com a sua candidatura.
Acarinhemos a nossa democracia, que não será certamente das piores.