Na última semana de janeiro, Governo e maioria andavam eufóricos - tinha acontecido com relativo sucesso o regresso aos mercados para financiamento do Estado. As inúmeras declarações que se sucederam a este propósito foram de tal ordem que dava a ideia de que todos os nossos males acabavam ali.
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É verdade que não faltou no país quem viesse aconselhar prudência e moderação e quem alertasse para os perigos de um otimismo exagerado. Deve relembrar-se que nessa altura também houve quem tivesse alertado para o facto de a colocação do financiamento ter sido previamente negociada pelo Ministério das Finanças e para a circunstância de as taxas aceitáveis a que se tinha chegado serem sobretudo reflexo das políticas recentes do BCE que se dirigiam finalmente à defesa do euro.
Que não, logo se apressaram a negar os porta-vozes e mentores destas políticas do Governo. O sucesso devia-se, isso sim, à política de rigor do Executivo e à sua boa imagem junto das instituições europeias, por ter conseguido atingir as metas a que se tinha proposto. De tal ordem que António Borges veio mesmo afirmar que, a partir de então, não seria preciso mais austeridade.
Só que a realidade, infelizmente para todos nós, aí está para não permitir euforias.
O desemprego e a queda do produto interno bruto ultrapassaram, no último trimestre do ano, tudo o que era previsível. O aperto na bolsa dos portugueses é já de tal ordem que mesmo num período em que normalmente aumenta o consumo interno com o 14.º mês a dar uma ajuda nas despesas de fim de ano e se movimentam algumas poupanças para alegrar o tempo natalício, a contração económica se acentuou. No último trimestre do ano perderam-se 125 mil postos de trabalho e passamos a caminhar apressadamente para o chocante número de um milhão de desempregados. E, o que é mais grave, não se vislumbra nas políticas do Governo algo que possa fazer inverter esta situação. A insensibilidade para os dramáticos problemas que afetam milhares de famílias é preocupante. Ora neste quadro, vir ainda falar-se de retoma económica a breve prazo é, afinal, procurar justificar de forma grosseira a persistência em políticas demonstradamente erradas.
O desemprego jovem atingiu os 40%, com o Norte do país a ser a região mais afetada. Mais de metade dos desempregados estão nesta situação há mais de um ano e a maioria dos inscritos nos centros de emprego não recebe qualquer subsídio.
Todos os números referidos pelo Instituto Nacional de Estatística são impressionantes. Vivemos um dos piores trimestres de sempre.
A única coisa que pode desejar-se nesta altura é que tenha sido mesmo o pior. A economia, de que a taxa de desemprego não é senão um reflexo, contraiu-se muito mais do que o esperado. A troika previu que o PIB recuaria 2,8% e afinal decrescemos 3,8. O crescimento progressivo das exportações, milagre em que o Governo assenta o seu modelo económico, também não se verificou. Aquilo que antes eram expectativas sombrias, são hoje negras certezas.
Com este panorama, alguém acredita que vamos crescer 0,7% nos últimos três meses de 2013? Só mesmo o ministro Vítor Gaspar.
Em 2010 crescemos 1,6% e hoje, com mais dívida, afundamo-nos de uma forma que só as políticas cegas que têm vindo a ser seguidas conseguem explicar. Como pode a economia crescer sustentadamente sem investimento? E neste quadro, como vamos poder recorrer aos mercados para financiar o país a longo prazo em condições que se mantenham aceitáveis? O presidente François Hollande já veio ameaçar com o incumprimento do défice de 3% para não sacrificar muito o crescimento; e se Berlusconi for eleito em Itália, como parece, a reação negativa dos mercados não se fará esperar.
O ano de 2013 não será, certamente, aquilo que o Governo prevê, nem será, seguramente, aquilo que nós precisaríamos que fosse.
Não se vislumbrando qualquer leve intenção de mudança nas políticas e com os indicadores para já disponíveis, preparemo-nos para o plano B - as medidas de contingência orçamental. Aquilo que nos espera este ano é mais do mesmo e a procissão ainda vai no adro.