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Esta semana, o processo de resolução do BES continuou a ser notícia nos média financeiros internacionais. Após a intervenção operada em agosto de 2014, ter-se-á estabelecido a expectativa de que as perdas estavam devidamente estimadas e que a solução então adotada teria criado um Novo Banco sólido e vendável no mercado. Porém o teste de "stress" mais recente deste banco veio revelar a necessidade de reforçar a sua solidez financeira. A solução determinada pelo Banco de Portugal, na sua qualidade de autoridade de resolução nacional, foi a de envolver agora vários obrigacionistas nessa operação, impondo-lhes custos significativos. Como se sabe, esta decisão surpreendeu e desagradou a vários fundos de investimento internacionais de grande dimensão e influentes. Grandes bancos internacionais não escondem, também, a sua preocupação.
Este evento suscita-me duas chamadas de atenção que considero relevantes. Primeiro, mais uma vez, os danos são maiores que os estimados inicialmente. Tal sugere a existência de dificuldades na avaliação e contabilização, em toda a sua extensão, das perdas a serem cobertas nas instituições intervencionadas. Resulta desta constatação um desafio evidente: há que apurar mais os métodos e procedimentos de avaliação da situação financeira dos bancos para que estas surpresas possam ser evitadas ou, pelo menos, limitadas de forma significativa. Em segundo lugar, o facto deste episódio ter colocado Portugal debaixo dos holofotes dos média financeiros internacionais, cria um sério risco reputacional para o país. E esse risco é bem mais sério se tivermos em conta que nos confrontamos com uma conjuntura internacional marcada por incerteza, nervosismo e agitação nos mercados financeiros internacionais.
Esta semana realizou-se, com sucesso, uma operação de colocação de dívida pública. Um facto que indiciará que o episódio BES não terá produzido ainda danos significativos. Porém, neste quadro internacional, há que evitar dar passos em falso. Há que evitar situações que possam alimentar expectativas negativas quanto a Portugal. As linhas gerais do Orçamento de 2016 acabaram de ser apresentadas pelo Governo. Esta é uma excelente oportunidade para sinalizar claramente o empenhamento do país em respeitar com rigor os seus compromissos internos e externos. Não tenhamos dúvidas, os chamados mercados, isto é, os investidores nacionais e internacionais, estão atentos e o seu escrutínio é exigente. O Orçamento de 2016 é, como já aqui escrevi, um momento decisivo nesse escrutínio. Não podemos falhar neste teste.