Nas últimas semanas têm estado a ser debatidos temas que considero difíceis. Acompanhei-os com curiosidade, mas sem paixão. Suscitam-me mais dúvidas do que certezas.
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O primeiro caso é o da eleição da primeira mulher como chefe de Governo em Itália, a primeira-ministra Meloni. Muitos comentadores questionam que o feminismo possa congratular-se com a eleição de uma mulher de extrema-direita, que defende políticas racistas e xenófobas. As opiniões, mais ou menos justificadas, dividem-se. De um lado estão os que, com poucas dúvidas, acham preferível que tivesse sido eleito um homem de Esquerda e concluem ser indiferente que Meloni seja a primeira mulher a chefiar o Governo de Itália. Nestes casos, o feminismo pode esperar. Outros, também com poucas dúvidas, defendem que o feminismo não pode esperar. A eleição de uma mulher para cargos de responsabilidade deve ser sempre saudada, por quebrar discriminações seculares e servir de exemplo no caminho da igualdade de género. Não me parece que o assunto seja simples. A eleição de um fascista é sempre indesejável. Mas interrogo-me se o feminismo é um monopólio da Esquerda. Ao longo da história, as mulheres que lutaram pela defesa dos direitos políticos, civis e laborais das mulheres eram todas de Esquerda? Ou simplesmente democratas?
Depois temos o caso dos protestos de ativistas do movimento Just Stop Oil que se exprimiram com o lançamento de sopa enlatada sobre o quadro dos girassóis de Van Gogh. Muitos comentadores justificaram uma certa compreensão pelos atos, defendendo que os protestos só têm eficácia se provocarem algum incómodo, algum choque. Para chamar a atenção é necessário ter ações insólitas, inesperadas e extravagantes. A urgência na alteração das fontes de energia e de defesa do planeta justificaria ações radicais. Porém, em geral, os atos dos jovens ativistas foram criticados, nomeadamente em nome do valor supremo da arte, acima, ao que parece, de outros valores civilizacionais. Os protestos teriam ultrapassado limites aparentemente consensuais. A questão difícil é mesmo essa. Quais são os limites que podem ser colocados aos protestos? A que protestos devem ser colocados limites e quem os coloca? As obras de arte têm um valor superior absoluto?
Finalmente, as decisões de Elon Musk, na sequência da compra do Twitter, e a sua autodescrição como um "absolutista da liberdade de expressão". É um tema também mais difícil do que parece e que merece um artigo, não um curto parágrafo final. A ele voltarei.
Professora universitária