Quanto mais finas forem as ações sequenciais de um algoritmo mais certeza há quanto ao seu sucesso.
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Foi assim que o Deep Blue (o supercomputador da IBM), depois de revisto e afinado o seu algoritmo para jogar xadrez, venceu Kasparov, em maio de 1997.
Os eleitores são como uma máquina. Respondem a algoritmos que os levam para um lado ou para o outro conforme a dose de desconforto presente ou futura que sentem ou que antecipam.
O problema pode ser nobre e os passos programados para o resolver heroicos, mas se doer o gato escalda-se.
"Vai ter um lindo enterro! E o presidente também tem ajudado" são comentários frequentes que ecoam a revolta dos que se sentem penalizados por um negócio que afunda e um apoio que tarda em chegar. Não é uma reação pensada nem uma injustiça premeditada de adversários políticos. É o resultado puro de uma sequência "se, então... senão".
Debater se está bem ou mal feito é, neste momento, já irrelevante. Para contas sobre o seu futuro político, António Costa depende sobretudo da presidência portuguesa da UE e dos resultados das eleições presidenciais.
Se até junho de 21 a UE conseguir entregar os fundos prometidos para a recuperação pós-covid, se Marcelo for eleito com vantagem confortável e esperar que Costa saia para se virar para uma cooperação estratégica com o próximo candidato mais vantajoso a PM, se crescermos em "V" a partir do segundo semestre do ano que vem, então é muito provável que este Governo deponha armas por meados de 22.
Rui Rio deve ter algum conselheiro jogador de xadrez e, a partir de certa altura, percebeu que não valia a pena jogar contra a máquina. Era apenas deixar o algoritmo funcionar.
Ninguém o pode acusar de não colaborar. Ninguém terá argumentos contra a mesma solução parlamentar que António Costa protagonizou, agora à direita, por mais que André Ventura se divirta a fazer rasgar vestes.
É só esperar. Game over.
Analista financeira