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Aterrível semana que agora termina patenteia o difícil momento financeiro para Portugal e evidencia - não obstante o contínuo crescimento da economia e das exportações - o que há muito se receava: à semelhança do que acontece noutros países da União Europeia, a economia portuguesa demonstra dificuldades orçamentais, que não podem deixar de inquietar o poder político.
E, na sequela de uma intervenção pós-crise, em que o Governo recorreu a diversos meios para ajudar famílias, trabalhadores, desempregados e empresas a ultrapassar as dificuldades impostas pelo abalo internacional que assolou fortemente o nosso país em 2009, a verdade é que - ao invés do que acontecera em 2008 em que o Governo anunciava a consolidação das finanças públicas - face às pressões financeiras internacionais e ao subsequente momento socialmente exigente (em prol da defesa das famílias, com a afectação extraordinária dos recursos do Estado) foram inevitáveis as consequências ao nível das contas públicas portuguesas.
Ora, e num contexto de sujeição às fortes pressões dos mercados financeiros internacionais, em particular das agências de rating, em que, um pouco por toda a Europa, a principal prioridade no curto prazo parece ser a de restaurar a confiança dos investidores estrangeiros através da apresentação de medidas credíveis para a consolidação das finanças públicas, sucedem-se os pacotes de medidas de austeridade no sentido de reduzir os défices públicos progressivamente até 2013. Destaco as adoptadas na Irlanda e em Espanha, mas também na Alemanha, no Reino Unido e, mais recentemente, em França. Por exemplo, nesta semana, e reconhecendo tratar-se do maior esforço de redução da despesa pública de há 50 anos, a ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, e o ministro das Finanças, François Baroin, apresentaram um plano que contempla, entre outras medidas, o congelamento do salário dos funcionários públicos e a supressão de mais de 31 mil postos de trabalho na Administração Pública já em 2011. Mas como enfatizou Christine Lagarde (e essa é, certamente, uma preocupação de todos os dirigentes políticos europeus) a redução do défice, sendo um imperativo económico, não pode ser um travão à retoma económica.
De facto, e prevenindo a intervenção do FMI em Portugal, em nome do interesse nacional será imperioso alcançar um amplo consenso político que permita (salvaguardando áreas sociais como a Segurança Social, a Saúde e a Educação) um equilíbrio entre a redução do défice e a retoma económica.